Corpo bom é corpo lar
*Nathália Coelho
Fui marcada em fotos antigas por uma amiga outro dia, de um estágio do Exército que passamos pela universidade, no curso de jornalismo. Tinha uma legenda sobre esforço e sonhos. Eu só conseguia me ver e pensar como era magra e mesmo assim me achava gorda.
Nunca fui ensinada a amar meu corpo. Mas a enquadrá-lo em padrões porque assim alguém poderia me amar. Cuidar de mim era sinônimo de perceber o tamanho da barriga e ficar em paranoia até que diminuísse. Senão, nenhum homem ia me querer.
Comecei a engordar com o divórcio dos meus pais, aos 8. Não sabia digerir as emoções, então, as comia. Minha mãe percebeu a ansiedade e me levou ao psicólogo infantil. Mas só aos 14 perdi 11 kg. Um ano antes, um professor de Educação Física havia me usado como exemplo:
Sem minha disciplina vocês podem ficar como essa jovem de tênis Rosa.
Apontou pra mim. A sensação era de inferioridade. Lembro que havia um rapaz bonito na faculdade, mas só pensava: “Fulano nunca vai me olhar com esse meu corpo!” Aos 25, perdi 17 kg. Aos 28, ganhei tudo com o mestrado. Só aos 29, com o revés de um relacionamento tóxico, percebi o problema. Encarar o interior machucado me fez ver a cegueira.
Não é normal se odiar, reduzir-se a um padrão ou acreditar que relacionamentos são para modelos. Não é normal trocar essência por estética, embora a sociedade o faça.
Despertar é compreender o adoecimento coletivo e quebrar o paradigma. É saber que não há culpados. Sobretudo nossos pais, também vítimas! É responsabilizar-se pela ressignificação do agora, e das próximas gerações.
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Hoje entendo que estar bem comigo passa pelo autoamor de não viver refém de expectativas alheias. Está na autoestima de enxergar-se em construção. Falho, mas divino mistério do universo.
Estar em paz é aceitar o presente e ancorar a felicidade nele. É encontrá-la no caminho pois se encontrou primeiro. Só assim para amar o corpo capaz de abraçar sua história.
Afinal, corpo bom é aquele que conforta a existência. Imperfeito, mas com significado. Corpo bom é corpo lar!
*Nathália Coelho é jornalista, escritora, professora e doutoranda em Literatura pela UnB. Além da escrita, ama também as plantas! É autora da página @contradigo no Instagram e do Blog A rua esquerda.