Viajar é preciso! Mas para quê, afinal?


Foto: Arquivo pessoal

*Juliana Melo

Quando as crianças eram bem pequenas, passei uma fase evitando viajar. Sentia necessidade de experimentar nas férias um dia a dia mais calmo, sem rotina, sem cobranças.

Tenho uma certa proximidade com as tartarugas, mais pelo andar vagaroso, como que apreciando cada passo, do que pelo fato de andar com a casa nas costas.

E quando se tem duas crianças pequenas com pouco mais de dois anos de diferença viajar significa colocar a casa nas costas. Viagem pra mim era sinônimo de cansaço e estresse.

Comecei também a questionar o porquê dessa nossa necessidade de conhecer novos lugares nas férias. Sentia como se fosse uma fuga de uma rotina sem sentido. E pra mim fazia mais sentido criar uma rotina em que eu me sentisse plena do que estabelecer alguns dias no ano pra me sentir assim.

No entanto, os filhos crescem, aprendem a se arrumar sozinhos, a arrumar sua própria bagagem. E também nos fazem rever pontos de vista, fazendo-nos olhar pras nossas questões com as lentes do amor. Aos poucos, foi ficando mais fácil e gostoso viajar.

Planejávamos as férias. Percebi que era tempo de ampliar horizontes. Ano de Júpiter em Sagitário pede viagem longa. Decidimos ir a Portugal e a Disneylandia Paris (uma dívida com meu filho, já que a minha filha já havia ido a Orlando).

Mas dentro da minha cabeça que questiona o mundo pronto, me perguntava a todo momento: por que viajamos? Por que essa necessidade de conhecer mundos novos, novas cores e sabores?

E as respostas foram chegando. Percebi que a questão não era a viagem em si, mas o sentido que damos a ela. À medida que traçávamos roteiros que respeitavam nosso tempo e interesse, muito mais do que aquelas “dicas de passeios imperdíveis”, honrávamos a nossa natureza, respeitávamos a nossa individualidade e nosso mundo próprio, tão rico e cheio de variáveis.

Viajar pode ser um profundo processo de autoconhecimento se assim permitimos que seja. E aí é até possível o improvável: ouvir de uma criança que preferiu Portugal à Disney Paris.

*Juliana Melo é servidora pública, mãe, esposa, filha, mas entende que, à parte de todas essas identidades, é apenas um ser em busca de sentido.

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