O balão

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Foto: Arquivo pessoal

*Victor Rosa

Supermercado grande, novembro de 2014, um pai, uma filha, um balão da Peppa Pig, um telhado.
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Um final de tarde comum, final de domingo. O pai e a filha na fila do caixa, a menina com um pequeno balão, daqueles inflados com gás hélio, todo colorido, da personagem infantil Peppa Pig. Tudo muito comum, lindo também, até que, ao ver que a fila andou, a menina puxa a cordinha do balão com um pouco mais de força. A frágil cordinha se rompe, ficando presa apenas no punho da criança, enquanto o balão sobe lentamente, cerca de cinco metros, parando no telhado do supermercado.
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De pronto a mocinha encheu os olhinhos de lágrimas, mas segurou o choro com firmeza. O pai, incialmente, olhou com ar austero, mas viu que a culpa não foi da filha. Olhando para o alto e vendo lá seu balão, ainda com os olhinhos tristes, a pequena, com a maestria que ainda não sabe que possui, solta:
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-Papai, o bom é que o telhado ficou mais lindo com o meu balão!
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Ora, ora, ora! Uma pequena, do alto de sua inocência, demonstrando uma sabedoria que deveria ser nosso mantra de todos os dias: buscar o bom quando algo de mau ocorre. Passamos grande parte de nossa vida vendo as coisas pelo lado ruim, pelo lado do azar.

Culpamos o destino, o colega ao lado, os parentes, a chuva, o sol. Deixamos de lado a parte que, na maioria dos casos, é responsável por tudo isso: nós mesmos. Esquecemos de agir ao invés de reclamar. Negligenciamos que essa quantidade de energia negativa, esse pensamento pessimista, não traz, independente do credo, coisas boas.
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Busquemos o telhado lindo sempre. Há de ter alguma coisa boa em praticamente tudo. Encher os olhos de lágrimas, derramá-las, faz parte do processo, claro! Mas que se olhe para cima, perceba que, na ausência do telhado, o balão sumiria de vista, se perderia no mundo, e nunca mais poderia ser apreciado por ninguém. Que haja sempre telhados para amparar as coisas ruins, colocar limite nelas, para que nosso sofrimento seja passageiro, momentâneo, amenizável.

*Victor Rosa é escorpiano e flamenguista, ambos com convicção; policial, poeta e praticante de jiu-jitsu. Dessa mistureba, saem as escritas, os problemas e as soluções!

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