Meia-idade em crise-inteira
A meia-idade me levou a uma crise que de meia não teve nada, foi inteira mesmo. Me jogou naquele tão temido poço. Quanto mais eu achava que tinha chegado ao fundo, mais eu descobria que não tinha fundo. Conseguia me enxergar cavando minha própria cova. De tanto cavar e mexer naquela terra, percebi o terreno fértil que podia ter ali naquele poço, naquele fundo.
Vivia um luto atrás do outro. Perdas reais, simbólicas, perdas. A finitude das pessoas, dos relacionamentos, a minha própria, tudo ali comigo naquele poço. A dor serviu de adubo pra semear. Joguei sementes pra todo lado naquele buraco que parecia sem fim. Queria que dali crescesse algo novo.
Enquanto eu plantava sozinha, veio uma luz da superfície. Será que só eu estava lá embaixo? Será que só eu passava por aquela crise? Decidi cavar para os lados. Se a saída estava difícil, queria encontrar companhia. Conversar abertamente e de forma sincera com outras mulheres do poço, se é que elas estavam lá.
Descobri que eu não era exceção. Fui cavando e encontrando mulheres e mulheres e mulheres. Atravessar os quarenta mexia não só comigo. Não era só eu. Éramos muitas e ninguém falava sobre isso. Cada uma sofrendo sozinha. Semeamos juntas. Nos demos as mãos e, uma se amparando no ombro da outra, fomos saindo daquele buraco.
Desde então, e já faz mais de um ano, eu me cerco de mulheres. Pra conversar, pra dividir, pra ser honesta e verdadeira. Cansei da minha hipocrisia. E me sinto fazendo uma colheita. Experimento o tempo todo a força e a beleza do feminino e me emociono. É mágico sentar frente a frente com uma mulher sem enfrentamento, tirar a máscara, olhar no olho sem piscar e dizer, sem qualquer julgamento: “Eu também passei por isso, faz parte do amadurecer, é dolorido, mas passa.”
Hoje eu tento ser aquela que oferece a mão, que vai se juntar a outra mão pra ajudar aquela que ainda está lá, naquele fundo escuro. E fico atenta aos buracos do caminho. Porque sei também que pode ser fácil cair de novo no poço.