Uma palavra pra me definir

Foto: Arquivo pessoal

Nome e profissão, me pediram pra dizer em voz alta em um curso que fiz pra me conhecer melhor. Taciana, jornalista. Saiu no automático. Assim que pronunciei o que venho repetindo há vinte e seis anos, o incômodo chegou. Uma palavra e meu nome não mais me definem. Eu sou também jornalista, mas senti naquela hora que eu não queria mais estar presa ao peso de uma palavra.

Pensei em levantar a mão e pedir pra corrigir. Talvez eu pudesse dizer pela primeira vez escritora. Sou escritora. O incômodo continuou quando pronunciei sozinha pra mim mesma. Estaria só pegando mais um rótulo da caixinha.

Uma palavra pela qual você deve se apresentar… No próprio curso, as pessoas foram dizendo que tinham se formado em direito, odonto, veterinária, mas não eram nada daquilo. Títulos engavetados.

Fiquei pensando se a pergunta não teria sido provocação. Por que precisam colocar etiqueta em tudo? Minha profissão, com a qual eu me sustento, diz talvez pouco de mim hoje. Sou grata, muito grata porque foi ela que me trouxe até aqui.

Comecei na era da datilografia com todos meus ideais adolescentes desengavetados, passei pelo mimeógrafo, telex, transmiti matéria pelo orelhão. E. durante muito tempo, ajudar a levar a notícia fez completo sentido pra mim. Eu me bastava jornalista.

Hoje eu não me encaixo mais em uma só caixa. Cada dia menos jornalista e talvez mais escritora. Na verdade mesmo, estou jornalista, estou escritora, mas quem eu sou…

A única certeza é que uma palavra não mais me define. Se uma palavra não mais me define, encontrei a palavra: buscadora. Sou uma buscadora. Buscando sentido, caminho, respostas, buscando saber quem sou. Já disseram isso antes, mas acabei na mesma constatação: hoje sei que não sei.

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