Questão de peito

Foto: Pixabay

*Adriana Caitano

Qual é sua melhor lembrança de um seio? Aquele quentinho que chegava para matar a fome, dar amor e abafar o choro? O que te acolhia pra dizer que nada de mal ia te acontecer? Ou aqueles volumosos das revistas? Sendo mulher ou homem, você certamente tem uma história bem particular com seios. Os seus ou os de outras mulheres.

O seio pode ser uma das primeiras coisas que vemos na vida e até a última e, mesmo assim, ele ainda está rodeado de tabus. Convivi com seios alheios com naturalidade. A imagem da minha avó, já na velhice, expondo os dela a qualquer hora do dia pela casa ficou marcada como um símbolo da liberdade que todas gostaríamos de ter.

Mas passei muito tempo com vergonha dos meus. Era franzina, dessas que demoraram a se desenvolver. Aprendi na escola, com os colegas, que só seria mulher quando tivesse seios crescidos. Passei pelo constrangimento de ouvir daquela tia, em plena festa de família, que queria ver se eu já tinha “laranjinhas”. Engraçado que nunca ouvi alguém pedir para ver o “passarinho” do meu irmão.

A gente cresce, começa a comparar os próprios seios com os das outras. Aprende que os homens só gostam de quem tem seios fartos e durinhos. Nas propagandas de cerveja, nos fazem acreditar que os seios são a arma de sedução mais poderosa.

E eu continuei me achando menos mulher por isso. Quando vi amigas colocando silicone, em um momento tive inveja, depois passou. Porque descobri que a cirurgia não resolvia a questão que estava lá dentro: nem todas sabiam que eram bonitas com ou sem o decote preenchido.

Com o tempo aprendi que o tamanho dos seios só faz diferença na hora de comprar sutiã. Que eles devem ser livres — do preconceito e do machismo. Mas colocaram tanto grilo na nossa cabeça que muitas de nós crescemos sem coragem até de tocá-los. E, assim, o câncer de mama, que poderia ser logo diagnosticado pelo simples prazer de uma mulher massagear os seios, chega sorrateiro e silencioso.

Sentir orgulho do próprio seio, seja do tamanho e formato que for, pode ser um caminho para evitar a doença. Mas certamente é o melhor jeito de nos mostrar que o corpo feminino não é um objeto, e sim uma obra de arte.

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