E se…
Às vezes me pego em visita ao meu passado.
Leio meu velho diário à procura do que não está escrito.
Nas entrelinhas, começo um exercício de como teria sido.
E se…
E se eu não tivesse me mudado da cidade onde nasci?
E seu eu tivesse me casado com meu primeiro namorado?
E se…
É o futuro que não veio
É o passado não vivido
Empurra o verbo pro imperfeito,
põe na condicional.
E se…
Não vai ser redigido
É a ficção que nem foi pro papel.
E se…
Não existe
E, se existisse, ninguém sabe
Poderia ter sido pior
Poderia ter sido melhor
Não poderia nada
Porque não foi.
E se…
E se eu continuo insistindo
Vira arrependimento
ou pode ser alívio.
O que já foi, foi
E se recebo como se não houvesse reticências
Simplesmente aceito, sem me julgar
O que viria não veio
Não era pra ser.
Se entendo isso
Transformo o arrependimento em aprendizado
E o alívio, em agradecimento por uma nova chance.
E se…
É o caminho desviado
É o desvio do caminho
O ‘e se’ só não vai me fazer parar de caminhar.