A leveza do tempo

Foto: Arquivo pessoal

*Agnes Melo

Há alguns anos viralizou nas redes sociais um vídeo de 34 segundos que era parte de uma entrevista de duas divas dos anos 70/80 – Cher e Tina Turner – para Oprah Winfrey.

– O que vocês pensam sobre envelhecer?, pergunta a apresentadora.

Cher rapidamente responde:

  • Eu acho uma merda.

Surpresa com a resposta da amiga, Tina dá aquela risada que faz a gente virar a cabeça para trás. Oprah, também com um largo sorriso, complementa:

  • Mas e toda a sabedoria…..

Cher interrompe e mata no peito:

  • F….-se isso também.

As três e o público gargalham juntos.

Eu entendo a Cher. Após os 50, a mulher perde muita coisa: paciência, ânimo, cabelos, tesão, massa muscular, massa óssea, visão. E o derrière se desloca para o abdômen (essa minha barriguinha não tem nada a ver com 30 anos de chope). Todo esse desequilíbrio com certeza afeta nosso centro de gravidade. Por isso que idoso cai, gente!

Mas nem só de perdas vive a mulher a partir da quinta década. Entendo que o desabafo da nossa musa – hoje septuagenária – reflete a coisa mais importante que ganhamos com o avanço dos anos: a liberdade – de falar o que pensa, de rir de si mesma, de não pintar mais os cabelos brancos (ou pintar de azul), de só desfrutar da companhia de quem lhe é muito caro, de dizer “não”.

Até os 40 você ainda tem pressa – quer ser atraente, inteligente, divertida, amiga, confidente, competente, tudo ao mesmo tempo – e os hormônios ainda estão lá, segurando sua onda e seus peitos. Na fase seguinte vem, enfim, a calmaria, pois a natureza é perfeita. Os filhos estão crescidos e você só vai administrando os resquícios de conflitos existenciais da adolescência.

Então você vai adorar desfrutar da sua própria companhia sem nenhuma culpa. Seletividade. Aquela amiga de infância com diferenças ideológicas irreconciliáveis? Não quer nem para um chope mais. Aquele tio, primo, cunhado inconveniente? Não fica perto nas festas de família nem por educação.

Esse é o maior ganho da maturidade. Nós nos livramos das amarras sociais. Parece pouco, mas é quando você se desnuda de todas as convenções e se veste de si mesma, leve!

*Agnes Melo, jornalista, alma livre, 53 anos.

Foto: Arquivo pessoal

Tags: envelhecer amadurecimento escrever

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