Aos 47, maquiada de mim
Promovi uma auditoria interna no meu perfil do Instagram. Fui analisar as mais de 700 fotos publicadas antes dessa. Ou estava de óculos de sol ou maquiada ou com filtro. Poderia tentar um autoengano e alegar mera coincidência.
Mas que validade tem fazer uma inspeção dessa e disfarçar os dados? Sim, a estratégia, pensada ou inconsciente (pra ser mais amorosa comigo), foi me mostrar mais bonita, mais jovem. Quem não me vê há muito tempo pode achar que venho me congelando no tempo.
Essa foto de hoje é um presente de aniversário pra mim, um carinho no meu rosto, já marcado pelas linhas da minha história. Essa sou eu sem maquiagem, sem cílios postiços nem rímel. Tem base? Nada de base. Sem sombra de sombra. Meu rosto vestido de sorriso. Porque quando a gente abre um sorrisão desse, todas as linhas do rosto respondem sorrindo também. Até o olhar sorri.
Pedi para o fotógrafo captar cada linha e ir além da linha. Me registrar envelhecendo. Envelheço hoje e todo dia, assim como todo mundo. Estamos juntos nessa, pode acreditar, mesmo que você tenha 20 anos. Você acordou mais velho hoje também e não preciso esconder minhas rugas de ninguém.
Não é fracasso nem derrota envelhecer. Onde foi que me perdi para achar que a beleza se perde com a idade? Querem me conduzir a pensar isso, mas não, não vou me envergonhar. É uma afronta estar me sentindo bonita assim? Isso é vida, no meu caso, vida vivida há 47 completados hoje.
Estaria mentindo se dissesse que não gosto de me produzir, de rebocar um batom e todo kit de maquiagem. Mas essa sou vestida com a idade, refletida de sol, maquiada de mim.
Pra quem passou o último ano revelando a alma, qual o problema de revelar a idade, expor as rugas e mostrar as imperfeições na pele? Nenhum. Esse é meu rosto. Limpo. É só uma parte do meu corpo que vai me contando em linhas que o tempo está passando. Quero terminar de preencher esse traçado. Vivo.