A primeira noite de um homem

Foto: Divulgação

*Ricardo Segóvia

O chão era o limite para os olhos do rapaz de 21 anos e dono de toda a culpa do mundo. O corpo, ainda trêmulo pelo esforço físico dos instantes anteriores, seguia as próprias pegadas no caminho de volta para casa. Durante os 15 minutos do trajeto, mentiu para si mesmo baixinho: “Nunca mais farei isso de novo, nunca mais”.

Fez do juramento um mantra que jamais seguiria. Os ombros curvos pareciam confirmar que o peso do mundo havia repousado sobre suas costas. Havia um motivo: acabara de se tornar homem.

Tinha medo de encarar as pessoas, porque acreditava que a novidade estava escrita em sua testa, no seu modo triste de olhar e no seu jeito de quem pede desculpas por sorrir. Foi engano. O gozo derradeiro tinha gosto de culpa. Pecado na certa: tivera de recorrer às suas parcas economias para desfrutar de um momento único. Só há uma primeira vez.

Mas quem seria aquela moça de aproximadamente 25 anos que lhe fizera homem? Não era bela, mas estava longe de ser feia. O sorriso encabulado lhe caía bem, em meio à pele clara e os cabelos tingidamente loiros e lisos. O olhar dela era triste.

Fazia calor na cidade, meio de semana, meio de tarde, últimos dias de dezembro de 1999. O jovem não se esquece do primeiro contato: a moça estava sentada junto a uma pequena mesa, como se fosse uma recepcionista de um escritório qualquer. Ele deu a senha: “É aqui a massagem?”.

Carla pediu ao rapaz que a acompanhasse. No quarto, as janelas fechadas e o teto baixo faziam o corpo dele transpirar em bicas. O que lá ocorreu ficou impregnado em sua alma.

Podem ter sido apenas 15 minutos, como meia-hora. Dois banhos e o acerto de contas. Para ela, foi mais um cliente. Para ele, foi a primeira vez. Ambos se agradecem e se despedem com um beijo no rosto. Ela o acompanha até a saída.

O rapaz, trêmulo, encontra o chão e segue as próprias pegadas no caminho para casa, sem ter a certeza de que os passos do homem que acabara de se tornar são tão certeiros quanto os do menino que o havia conduzido. “Nunca mais farei isso de novo, nunca mais”, prometeu-se.

*Ricardo Segóvia é o pseudônimo de um eterno maior abandonado.

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