Sincericida em remissão

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Sou uma sincericida confessa. Meus crimes? Não medir palavras. Ser transparente. Não esconder sentimentos, mesmo aqueles mais incômodos: raiva, mágoa, decepção.

Sempre achei que todos preferiam a verdade. Que era um direito do interlocutor saber exatamente o que eu sinto. Mas nem todos. Ou melhor, a verdade boa é para todos, mas quando é inconveniente, é para poucos.

Demorei muito pra aprender que o sincericídio pode ser um alívio para quem comete, mas também é capaz de dinamitar pontes, de deixar cicatrizes, de abalar relações.

Em tratamento da minha condição sincericida, tenho a árdua tarefa de medir as palavras. Tomada pela raiva, que passa rápido, é verdade, chego a elaborar frases, teorias, longos raciocínios. Mas, ao contrário do que eu fazia, não mando as mensagens, não falo. Guardo esperando um momento melhor. E o momento melhor pode ser nunca.

Finjo que está tudo bem e sigo, tentando resolver tudo internamente. Já colhi frutos desse autocontrole. Mas volta e meia meus impulsos me levam de volta pra beira do precipício emocional. Olho pra baixo, e recuo.

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