Mãe divorciada, viúva e solteira
*Eire da Silva Bomfim
Somos nossas histórias, seja com início sem fim ou que começam terminando. Histórias que nos reconectam, redefinem, descaracterizam. Leva tempo para se reconhecer, entender, juntar os pedaços que nem sabíamos existir, tipo amor próprio.
Custamos ver saldo positivo, sempre que essas histórias se escrevem por si, sem tempo para pensar. Meu estado civil se escreveu assim, em 35 anos.
De encontros/desencontros da vida, tive relacionamentos longos, sete, nove anos. Uma gravidez silenciosa, revelada às 17 semanas do segundo tempo.
Tentei aprender a ser esposa enquanto era mãe. Com o divórcio, tentei aprender a ser só, entender gostos, quem eu era, meio a cobrança interna/externa de ter uma família e um pai presente para um ser crescendo em meio ao meu caos.
Descobri quantos homens enxergam a mulher divorciada como um embrulho aberto e pronto para desfrute. Como valores se deturpam, pela carência, falta de si mesmos e de uma Cia na vida adulta.
Também descobri que a vida pode dar voltas longas demais. Reencontro um amigo de adolescência, se achava velho demais para mim. Quinze anos depois, eu, mãe, divorciada, solteira, redescubro espaço para uma Cia com mesmo sentido de vida. Reencontro tipo curativo de marcas profundas. Quando me interiorizo e encontro alguém pra somar, outra lição: o luto de quem fica, a viuvez.
Deixar partir quem somava, a mim e minha guria. Quem ensinou tanto, sobre esperar, ser merecida, amada, sobre alcançar o tempo. Tempo não se perde. Ele têm vida própria, nós vamos pegando no tranco e no ritmo.
Tive vergonha, senti dor, quis desistir de muita coisa. Só quando aceitei que sou isso tudo e essa vida toda que já passou, passei a olhar para cada estado civil, com amor; pra mim, com respeito e para os homens com mais propriedade do que quero para a vida. Vida que só eu sei quanto custou e me fez mulher depois de todas as outras “funções”. A ordem dos fatores alterou com eficiência o “produto”.
*Me chamo Eire da Silva Bomfim, sou a eterna filha, aprendiz de mãe, advogada e gastrônoma, e aquela que persiste em sentir o que as palavras conseguem nos dizer.