Você sabe o seu tamanho?
V-o-c-ê s-a-b-e o s-e-u t-a-m-a-n-h-o?! Eu não sei. Poderia dizer pessoalmente que sou do tamanho daquilo que vejo e não do tamanho da minha altura que ficaria até poético e bem respondido, mas ninguém saberia do que me privaram ver, porque eu mesma não entendo. Sou uma mulher e não entendo o meu próprio choro.
Imagine, ter régua generosa e medir a própria altura! Compreendo pouco e dou cabeçadas a esmo na confusão da vida corrida dos outros conjugando com a minha achando que estava triste quando estava era fula da vida.
O desamor é assim: começa com uma dorzinha que parece uma pancada, sabe, daquelas que deixa meio roxo e vai passar? E de repente é um hematoma atrás do outro. Quando vê, já é o mindinho na quina do banquinho, que raiva! Que raiva desse banquinho que não me ama e me machucou.
E que tamanho eu tenho quando sinto raiva de mim que tromba nas coisas e machuca? Uns quase dois metros de crítica e desamor e olhar masculino.
O tamanho das divinas tetas incomodava na escola e aí eu ganhei o meu primeiro sutiã. E ainda criança soube que o meu pé era enorme, bem maior que o das amiguinhas, tal qual minha estatura.
Por falar em altura, sempre que olho fotos antigas de aniversários noto que estou um pouco corcunda lá no fundo. Quando desengonça, a menina encolhe os ombros. As orelhas sempre atentas – a audição apurada dos calados – são também orelhas grandes, segundo diagnóstico do meu irmão, que media também o meu nariz e chamava meu cabelo de ruim.
Um pescoço alongado em cima das saboneteiras que ganhei no ballet que eu esperava que me fizessem elegante. Um queixo sempre comentado: duro, estranho, furado, avantajado. Todo um tamanho que hoje me cabe e não coube em sua caixinha de aliança de prata. Não coube em salões de beleza caretíssimos, em vestidos apertadérrimos, nem em códigos morais
estritos e conservadores. Tudo me comprimiu e o tamanho que habito já me pareceu errado.
*Bárbara Maria é escritora inquieta, poeta contemporânea e mais algumas fraudes insistentes.