Sem escoras
Esta semana, acordei, abri as cortinas, ventilei a casa. E olhei para minha fiel escudeira, que me acompanha há três anos, minha palmeira bambu. Outrora sempre muito resistente e vívida, eis que acordo e lá estava ela, ressecada, querendo me passar uma mensagem, a de que nem sempre somos ou estaremos fortes. Em tempos como esses, ela me mostrava que havia perdido o brilho, clamava por atenção.
Escorei alguns troncos em volta, e deixei a iluminação sobre ela. Aquela imagem me trouxe muita reflexão. Estamos diariamente precisando de uma “escora”, não no sentido de dependência não! Mas de escoras emocionais, de cuidados, de um apoio, de um sorriso, de um abraço. E nós muitas vezes nos escoramos.
Nos escoramos como náufragos em uma tábua de apoio, em um longo e feroz rio correnteza abaixo. Nos escoramos para fugir da frieza, do desamor.
Nos escoramos, para tentar manter a paz em nosso coração.
Nos escoramos para manter um sorriso, quando tudo lá fora parece não haver mais sentido. Nos escoramos para tentar manter a paz de espírito, a nossa conexão com um Deus maior e supremo.
Nos escoramos para “continuar a trilhar”, para marcar nossos passos neste plano terrestre, para nos resgatar de tempos tão incertos. Nos escoramos para não ralar na aspereza, para não ferir a pele, para não adoecer a alma.
E assim, horas e dias se passaram. Resolvi olhar novamente para a minha “fiel escudeira de jornada”. Acordei, desatei os nós, os escoramentos que a cercavam e por uma grata surpresa, após muito cuidado, cá estava ela novamente de pé, brilhante, não precisando mais de escoras, estando firme novamente, firme por si própria.
O escoramento em algum trajeto frágil de nosso percurso pode até parecer necessário, podemos até achar que precisamos dele, mas, antes de tudo, devemos olhar para nossa base e saber que precisamos caminhar e continuar firmes e fortes, sem escoras e sem nós.
*Guilherme Teixeira é escorpiano e brasiliense. Um eterno apaixonado pela força da escrita e o seu poder de acalentar a alma.