E quando vi, escrevi

Foto: Arquivo pessoal

*Carina Melo

A escrita, até algum tempo atrás, era um lugar distante, que fui convencida de não “merecer” ocupar.

“Você não é boa com as palavras”, “Você é ótima em ciências, mas não é boa em português”, “Você é péssima influência”, “você é muito técnica para escrever… quem usa a palavra ensejo hoje em dia?”, “Vou te ensinar a escrever como eu, pois tem mais impacto nas pessoas, sabe”.

E assim, durante muito tempo fiquei de cara com grades que me separavam desse lugar que parecia libertador.

Tantos nós já estavam acumulados numa garganta apertada por vários gritos sufocados que um dia foi inevitável.

Em fluxo intenso, jatos de palavras amarrados a todos os tipos de sentimentos saíam em uma vazão quase incontrolável. E quando vi, escrevi. E como gostei do que estava ali. Era tudo, tudo o que queria ter escrito há anos, mesclado a lágrimas, materializado ali em minhas mãos. Descobri que realmente estava de cara com grades, mas sempre foi do lado de fora da prisão.

Agradeço ao tempo que fiquei suprimida dessa prática, pude decantar tanta coisa e escolher a liberdade de escrever o que observo e sinto sem muito conceito, métrica e aceitação. Algo que parecia um lugar que “não era pra mim” tornou-se agora um projeto pessoal e um lugar um tanto seguro e confortável.

Escrever de forma criativa, afetiva e para mim mesma tem se tornado um dos meus processos terapêuticos e ponte para conhecer tantas outras pessoas que se afeiçoam dessas minhas palavras, se identificam e compartilham um pouco de suas palavras e sentimentos também.

A escrita, a escuta, a partilha são sim, lugares que irei ocupar.


*@carinaameloo é uma mulher que experimenta a vida há 31 anos. “Coleciono memórias, sentimentos e algumas cicatrizes que me mostram a beleza do viver.”

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