Decifro-me ou devoro-te
Não quero ser santa, nem perfeitinha
Se eu conseguir ser humana já me darei por satisfeita
Porque ser humana é tarefa desafiadora demais.
Recuso-me a ser conduzida pelo animal sem rédeas que vive em mim
Instintitivo e voraz
Mas reconheço a facilidade de virar bicho.
Quando eu sinto medo, eu viro bicho
Quando eu sinto raiva, viro bicho igual
Quando não penso
desejo demais, bicho eu viro.
Saio de mim e, em instantes, está feito
Palavras mal ditas, malditas, reações impensadas
Comportamento de manada
Quem puder, se salve
Eu me salvo e dane-se o resto.
Passado o medo
passada a raiva
o desejo
Onde estava com a cabeça?
Por que os cachorros foram soltos?
Se pudesse voltar atrás…
Vem a consciência pesada de quem almeja superar o desconhecimento de si
Consciência com peso de tonelada
Que pese!
Porque assim o humano em mim volta a pensar e ser livre
O bicho não erra nunca
porque ele não escolhe
Mas eu tenho a liberdade de escolha o tempo todo.
— Errei, me desculpe, mas você também…
O culpado sempre é o outro, que me provoca
Não!
Como eu reajo ao mundo diz respeito a mim
O outro está na minha vida para me ajudar a ser um humano melhor.
Me conhecer eu posso até tentar
fazer sozinha
Fico enclausurada comigo mesma no alto de um morro até me decifrar
Mas sempre vou precisar do outro para me desenvolver.
Que não me falte a coragem
para olhar de frente
para esse bicho não domesticado que me habita.
Com a consciência de que eu não preciso ser devorada por ele
nem devorar o outro
Decifro-me ou devoro-te.
*@tacianacollet é uma das fundadoras do Vida de Adulto, escreve às sextas-feiras, duas vezes por mês.