Quero ser uma hacker do sistema

Simone Luciano no Blog Vida de Adulto
Foto: Arquivo pessoal

*Simone Luciano

Ano passado, deixei um emprego estável em uma multinacional para viver um ano sabático. Nesse período, mergulhei na minha lista de desejos. Descansei, viajei, entrei para um clube de leitura, fiz faxinas materiais e emocionais. Meus planos? Voltar ao mercado de trabalho no primeiro semestre de 2020.

Tudo perfeitamente mapeado, até que veio o isolamento e mudou tudo. Tive de tomar altas doses de humildade para compreender o recado do Universo de que não temos controle sobre o futuro.

Desde então, além de gerenciar o tsunami emocional de cada dia, decidi que também usaria a pandemia para voltar a estudar e investir em autoconhecimento. Nestes oito meses, assumi meu vício pelas lives e consumi horas de conteúdos virtuais.

A intenção era apenas sair da quarentena com um pouco mais de repertório. A surpresa aconteceu quando fiz um workshop que me convidava a fazer perguntas sinceras a mim mesma. Questões que roubaram meu sono algumas noites.

Quando a mentora propôs que eu escrevesse a minha autobiografia como ferramenta para essas descobertas, confesso que me incomodei, mas acabei indo ao reencontro com minhas origens.

Escrever minha trajetória foi terapêutico. Contar minha história a mim mesma me fez resgatar e fazer as pazes com minha ancestralidade. A resposta do propósito começou a ficar mais clara. Precisei de um lockdown pra destrancar as pistas guardadas nas gavetas internas.

Ao mesmo tempo em que escrevia a minha, devorava a biografia da ex-primeira-dama dos EUA, Michele Obama. Inspirada na história dela, comecei a compreender que as barreiras que nós, mulheres negras, enfrentamos para vencer a invisibilidade social são semelhantes e exigentes.

Quando olho ao redor nos ambientes que frequento e vejo que ainda são predominantemente brancos e masculinos, e que sou uma das pouquíssimas, e, muitas vezes, a única negra, tenho certeza de que alguma coisa está fora da ordem.

É preciso desconstruir as bases dessa sociedade sexista e racista na qual vivemos. Posso contribuir para um mundo mais diverso e inclusivo. Quero compartilhar minha história e fortalecer outras mulheres a escreverem as suas próprias. É isso que me faz sair da cama todos os dias. Meu propósito? Ser uma hacker do sistema! E o seu?


*@simoneluciano16 é uma leonina goiana, naturalizada paulistana, jornalista, mãe de dois. Curiosa, adora viajar e acredita que a diversidade favorece diálogos e promove justiça social.

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