Não adianta fazer birra pra crescer
Às vezes, eu me sinto a própria menina mimada, sapateando porque as coisas não estão como quero. Às vezes, a birra é tanta que preciso que alguém coloque um espelho na minha frente pra me mostrar o quão infantil estou sendo.
O que fazer com essa menina? Pôr de castigo no cantinho pra pensar? Colocar no colo e dar o que ela quer pra ver se para de chorar? Mas e quando se trata de uma menina já crescida e formada? Não adianta mais tratá-la como criança.
Decido acolher sem julgamento as fragilidades dela como sendo minhas porque, de fato, são. Eu sou essa menina mimada que quer aprender o caminho sem engatinhar. Que quer desenvolver a paciência sem saber esperar.
Desgosto. Pode ser esse o motivo da birra.
A menina anda desgostosa porque tem fome e quer madurar tudo às pressas. Quer adiantar um tempo que tem seu próprio tempo. Impaciente, bate o pé e chora pro mundo que só quer fazer o que gosta. Não quer perder tempo com o que desgosta, mas, ao tentar isso, perde-se de si também.
Aliás, eu vivo dizendo pra essa menina mimada que ela só vai de fato crescer quando aprender a dosar o quão doce ou quão amargo tudo que chega vai ser. Sem gostar demais ou desgostar de menos.
— Não, garotinha, não digo que é pra vida ser insossa, mas pra ser degustada com tempo e temperança.
No que parece tão amargo, pode estar o meu aprendizado e, no doce demais, a fuga. Se obcecada pelo desejo do saboroso, perco o verdadeiro sabor.
— Mas isso é muito difícil, não consigo!
Ninguém disse que seria fácil. Não adianta fazer birra pra crescer. E quer saber mesmo? Talvez você venha se dando importância demais.
*@tacianacollet é uma das fundadoras do Vida de Adulto, escreve às sextas-feiras, duas vezes por mês.