Sobrevida

Miryan Lucy Rezende no blog Vida de Adulto
Foto: Arquivo pessoal

*Miryan Lucy Rezende

Um dia a vida nos alerta, noutros nos desperta. Um dia nos acolhe, outros nos joga pra fora do tabuleiro. Um dia, nos afasta; noutros deita-nos em seu ombro e nos sussurra palavras de amor. Tem dias que a vida grita com a gente. Avante! Em frente! Noutros passa indiferente…

Tem dias que a vida enxuga nossas lágrimas e nos ensina o valor da resiliência. Noutros perde nossa paciência em um de seus inúmeros becos-sem-saída. Um dia a vida nos espera e levanta junto com a gente. Noutros, nos empurra da cama numa segunda-feira de incertezas.

Tem dia que a vida, amigavelmente, nos convida. Noutros nos deixa fora da festa pra nos dar uma lição.

Há dias em que a vida nos encanta, noutros nos espanta, e noutros, ainda, nos sacode, nos acode na aflição, nos absolve do pecado da desistência, nos concede o perdão.

Para que a gente se lembre de quem somos , nos endireita os pés e nos põe de novo a caminho. Caminha junto e dança no nosso ritmo. Tem dias que a vida traz um sorriso na cara. Noutros nos prepara para chorar.

Mestra, nos concede o conhecimento, põe à mostra nossas fragilidades, nos ensina lições de acolhimento e, dentro da nossa guerra, nos fala de paz. Nos revela segredos, nos conduz pela mão. Nos mostra os nós, expõe nossas feridas, para que possamos ser maiores, melhores e mais simples a cada dia.

Não apenas nos diz do que são feitas as estações, mas nos leva a passar por elas, para que, com elas , possamos entender que somos feitos da mesma matéria-árvore; precisamos germinar, crescer, florir, perder folhas, abrir galhos, ser morada de passarinho, vicejar e fenecer e, ao fenecer, continuar existindo em outras histórias, nas lembranças mais honestas de quem amamos e nos amou.

Diante da vida não há recuo. Ela segue seu curso. Corre solta – água de rio que vai dar no mar. Lá nos encontraremos todos muito mais profundos e largos.

A vida é isso mesmo Seu Guimarães: “Embrulha tudo. Esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa,sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”

Por isso, se nos leva ao inferno, também nos joga flores na cara, pra gente perder o fôlego e aprender, na lida, a capinar a vida e merecer o céu.


*@mlrezende51 é mineira de Ituiutaba. Dividiu sua infância entre Uberaba e Brasília. Em Uberlândia chegou aos 19 anos para cursar Letras. Lá ainda reside. Quando perguntada sobre sua trajetória como escritora, limita-se a dizer: “A palavra é que me escreve; eu estou aprendendo a ler.”

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