Eu envelheci na quarentena

Ana Canedo no Blog Vida de Adulto
Foto: Arquivo pessoal

*Ana Canêdo

É, eu fiquei mais velha desde que a pandemia começou. Mas quem não, né?
Cronologicamente, pelo menos dez meses. No meu caso, talvez estar mais atenta aos sinais (todos eles) me fez perceber a passagem do tempo de uma outra forma neste período.

“Tenho sonhos adolescentes, mas minhas costas doem. Sou velha pra ser jovem e jovem pra ser velha”. Sandy compôs esta música quando estava prestes a completar 30 anos, mas me vejo da mesma forma aos 45. Muitas vezes, a cabeça está a mil e o corpo não acompanha… Em um dia, acordo me sentindo com 15 anos, em outros, com 90. E segue o baile.

Desde o começo da pandemia, sinais do avanço da idade, que antes ainda pareciam ser sutis, vieram com força, pra mostrar que, realmente, o “tempo não para”. Meus cabelos começaram a ficar brancos depois dos 40. Mas, desde o começo do ano e longe da cabeleireira que faz as luzes nele (nunca pintei, assim, com tinta mesmo), parecem estar mais a vontade e agora tomaram conta de boa parte da minha franja. Porque, né, cabelo branco nunca nasce na nuca…

As letras miúdas dos rótulos já estavam ilegíveis faz tempo, mas eu, como não gosto de óculos, adiei ao máximo a ida ao oftalmo. Foi só quando não consegui enxergar direito as letras (nem tão miúdas) do clássico que estava tentando reler, foi que vi que não tinha jeito. E cá estou eu, tendo de aprender a usar um novo acessório: óculos para leitura.

Como prefiro tudo isso à opção realmente infalível para não envelhecer, sigo buscando colocar na balança as eventuais perdas e os prováveis ganhos deste processo. Afinal, o que é um traço de expressão aqui ou uma ruguinha ali diante do crescimento e da maturidade emocional que o passar dos anos pode trazer?

O que é usar óculos diante da liberdade de poder enxergar o mundo com as lentes que eu escolher, tendo uma consciência cada vez maior de quem eu sou e dos caminhos que quero (ou não) percorrer?


*@anacanedo é eclética em quase tudo, como uma geminiana ‘raiz’. Formiga com espírito de cigarra, adepta da filosofia ‘work hard’ ‘play hard’. Mas, mais do que isso, fortemente guiada pelo sentimento de que a vida é breve pra ser limitada. E assim, sigo sendo ‘muitas’ e buscando ser, cada vez mais, eu mesma. E hoje, sou muito muito grata por isso.

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