Carta de amor ao agora
Eles dizem como devemos ser. O que precisamos fazer. O que tá na hora da gente conseguir. Contam histórias sobre quem deve nos inspirar. Comparam com outras pessoas, como se todos tivessem os mesmos sonhos, como se a vida fosse plural, mas o viver só existe um. Como se tudo que é importante coubesse em uma lista de supermercado. E, pra tudo isso, eu venho até aqui e digo não.
Não pra essa história toda de conquistar um sonho, já pensando em outro. Não para estar aqui hoje e achar que tudo só vai acontecer “depois disso”, que logo vira “depois daquilo”. Entende como a gente pode estar vivendo? Como se tivesse uma linha logo atrás das tuas conquistas, dizendo “a partir daqui se chama vida” (antes disso não). Isso tira a beleza do dia que tu já tens.
Por favor, se você chegou comigo até aqui, olhe para as suas mãos e veja quantas linhas nelas existem, observe para onde vão essas linhas.
Agora as suas mãos têm sua atenção, não deixe que seu dia fique sem saber o que é isso. Não adie o estar presente. Não deixe de sentir cada balançar do teu corpo no momento em que respira, os cheiros dos lugares por onde espalha teus sorrisos. O agora ainda não tem a opção boomerang (não se esqueça disso).
E foi assim que eu descobri o que ninguém conta, que a gente precisa saber e que talvez possa nos impedir de enlouquecer (mas eu conto): as coisas também dão errado. E quando isso acontece, são nossas lembranças boas que nos seguram no colo, por isso que a gente precisa vivê-las.
O teu maior sonho se realizando vai ser lindo, mas o dia de hoje também pode ser sentido, não espere pra viver só quando “chegar lá”. Não vamos deixar no passado a mania de perceber o agora, pois a vida adulta, que a gente tanto queria, vai tentar nos tirar.
*Pra você que chega agora, eu sou pedagoga, especializando-se em Anos Inicias, gaúcha e com intensa afinidade com tudo que questiona o viver. Minhas escritas são a junção de uma infância bem vivida e uma profissão bem escolhida. Ah, eu sou a Gabi do @historias.dagabi.