Reflexões sobre a maternidade atípica
Melissa chegou há um ano e quatro meses, fazendo revolução na minha maternagem e na minha forma de ver o mundo, especialmente o “mundo da deficiência”.
Ela me ensina a ver o outro como igual. E me mostra que perfeição não tem nada a ver com um corpo perfeito, física e mentalmente. A perfeição está no amor incondicional por um filho, independentemente de suas particularidades.
Levá-la às terapias é cansativo, sim. Ao mesmo tempo, sei que levar um filho sem deficiência às aulas de robótica, de inglês, de futebol ou de kumon também é.
Melissa revela que nunca devemos ficar tristes, chateados ou envergonhados quando o coleguinha típico consegue diversos êxitos, mesmo ela levando meses ou anos para alcançar as mesmas vitórias.
Ela me puxa à razão. Me ensina o que é deficiência e demonstra todas as suas potencialidades e capacidades. Definitivamente, não há comparações a serem feitas. Compará-la com uma criança típica é injusto, desleal e insensato. Não são estes os sentimentos que quero passar para ela. Porque ela é maravilhosa e aprende no tempo dela e do jeito dela.
Após muita leitura, cursos e consultas com especialistas, meu marido e eu decidimos o que desejamos para o futuro dela: apenas que seja SAUDÁVEL e FELIZ. O resto é detalhe.
Cabe a nós, adultos, esta compreensão. Cabe a nós entender o que é deficiência. Cabe a nós lutar por igualdade, respeito, direitos e empatia.
E ainda descontruir a ideia de que somos guerreiros, de que merecemos honrarias e de que somos coitadinhos por ter um filho com deficiência.
Melissa me faz viver uma vida intensa, que demanda tempo, recurso, dedicação, saúde mental. Na mesma medida, esta pequena me diz com seus olhinhos amendoados que me escolheria mil vezes como mãe. E eu também a escolheria mais um milhão de vezes como filha.
Obrigada, Melissa, por tanto amor.
*@nobrenayla é professora e mestre em Educação pela Universidade de Brasília. Mãe da Ester, de cinco anos, e da Melissa, de um ano, que tem Síndrome de Down.