Carta do meu avô que não conheci

*Cláudia Zambrana

Minha querida neta,

Peço perdão, minha neta, por não te falar coisas tão belas nesta carta a você.

Sou filho de imigrantes, e cheguei ao Brasil conhecendo o trabalho e a vida desde muito cedo. Desejo que você se encontre bem e com saúde, e que esteja vivendo uma vida plena e feliz, pois tive um sonho que me perturbou.

Era um sonho de um futuro incerto com um enredo de caos e de dor para a juventude que você fará parte, e nesse sonho eu a via como em um filme em preto e branco.Ainda não sei o seu nome minha querida, afinal, meu filho, que será o seu pai, tem apenas dez anos de idade no momento.

Mas nesse sonho eu te vi, e ele me perturbou ao ponto de lhe escrever, e, em uma cápsula do tempo, guardar essa carta para você, para caso nessa época eu já não esteja fazendo parte desse mundo. Por favor, não estou sendo um mensageiro de tragédias, mas quero lhe alertar.

A sua vida, assim como a de muitas pessoas será marcada por algo invisível, que irá alcançar as pessoas de uma forma inimaginável. Mas esse alcance não será positivo, pois trará dor e caos àqueles que não entenderem o seu real sentindo.

Como avô, estou preocupado com seu futuro. Querida neta, seja prudente! E quando você ler esta carta olhe ao seu redor e veja o que estará acontecendo.

Não permita que palavras de ódio, de discórdia, separação e preconceito façam parte do seu dia a dia.

E quando falarem a você que essa doença não é nada, apenas uma gripe, olhe ao seu redor novamente e sinta com seu coração. Você terá que se proteger minha neta e proteger sua família! Esse inimigo invisível estará pelo ar e você não terá como vê-lo ou saber quem estará infectado.

O pior é que muitos não irão acreditar no que estará acontecendo e irão apostar com a própria vida ou com a vida daqueles com a saúde mais fragilizada. Dessa forma, direciono a você essa carta, na esperança de que não feche os seus olhos.

Seu avô, Octacílio da Silva Lomba.


*@claudiazambrana.l é escritora, advogada, estudante de psicologia, mãe de três e casada. Gosta de escrever sobre os mais diversos temas, sempre com uma história diferente e afetiva.

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