O outono chegou para mim
Quantos anos você envelheceu no último ano? Eu envelheci todos os dez que tentei rejuvenescer antes disso tudo começar. Me apresento: você lê uma mulher de 48, agora sem mais nem menos.
Isso não foi bom nem ruim, apenas o tempo tratando de ajustar os ponteiros. Envelheci rápido assim ao beber da fonte da finitude que flui ao infinito. Águas amadurecedoras.
Envelheci dez em um e garanto que não foi pouca coisa. Nem considero um ciclo, mas um ciclone da vida.
Envelhecer rápido me cansou. O cansaço de anos vividos sem parar pesou no ano em que parei. 2020, o ano que fez a gente, parada, viver vários.
Envelhecer rápido me cansou, me entenda, não quero mais forçar as coisas. Isso me tira a energia que já não há de sobra. Obedeço meu sentir.
Envelhecer rápido me cansou, mas me tirou a culpa. Não envelheço mais me desculpando como se envelhecer fosse fracasso. Nem vitória é. Não vejo a vida como competição de quem vai mais longe.
Envelhecer rápido me fez chegar a várias perguntas, mas quais de fato eu preciso responder? Que galhos secos preciso cortar para que novos brotos venham? Não é hora mais de tantas dúvidas. Nem de certezas absolutas.
Envelhecer rápido me trouxe o cansaço do já vivido com a constatação do que deixei de viver. Sem tempo para lamentações. Fiz o possível. E o que vivo agora está me preparando para o que ainda viverei.
Para sobreviver nesse ano que fez a gente viver vários, ameacei me fingir de morta para não ser devorada pelo tempo. Desisti ainda na saída, seria desperdício de vida. E a vida me pedia vida. Então, para sobreviver, vivi, apesar de cansada.
O outono chegou pra mim e me desperta.
*@tacianacollet é jornalista e uma das fundadoras do Vida de Adulto.