O agora nunca foi tão presente
Se tem uma coisa que fomos forçados a pensar nessa pandemia, foi sobre a nossa relação com o tempo. Lembro-me, há um ano atrás, da sensação de o tempo ter parado, como que suspenso no ar. Me questiono se não foi uma mensagem lá do “Alto” para que fizesse essa reflexão. Me recordo de como vivia apressado, como se houvesse uma urgência constante para tudo, menos para viver. Será que é necessário perder algo para valorizá-lo? Não gosto de frases prontas, mas, às vezes, faz algum sentido.
Continuo vivo, mas sem condições de desfrutar a vida livremente. Será que era isso que precisava perder? Estranho, não? Sempre gostei de viver, de desfrutar a vida, mas… pensando bem, em alguns momentos parecia mesmo algo automático: casa-trabalho-casa, 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª, ufa, sábado, domingo, casa-trabalho-casa, 2ª, 3ª…
A verdade é que o tempo parou.
O mesmo tempo que antes me atropelava cruelmente qual rolo compressor, agora parece sobrar no tic-tac das horas, se arrastando a ponto de incomodar tanto que não restou outra alternativa senão refletir sobre ele, ou sobre como vivia no tempo, se é que vivia ou simplesmente existia.
Acho essa reflexão tão importante quanto o respirar, não de forma automática como requer essa ação fisiológica, mas como uma necessidade inerente à condição humana dos seres vivos racionais. Tenho certo receio de que esse termo leve à uma interpretação errônea de que viver deve ser algo feito de forma racional. Não, para mim, viver requer um tanto de irracionalidade, tem a ver com colocar sentimentos no viver, dar sentido à vida.
Vive-se por meio de relações, consigo mesmo e com os outros, com toda a atenção que elas merecem, no momento em que acontecem. Me parece que a questão sempre foi resolver a equação tempo-vida-relações, não de forma racional, mais uma vez não, mas com toda a delicadeza e sensibilidade que merece. A resposta? Oxalá tivera eu.
De todo modo, o agora nunca foi tão presente em nossas vidas!
*@miguel_montenegro18 é carioca da gema, mestre em Administração, servidor público federal do IBGE e poeta. Um sonhador por natureza e um otimista por teimosia. Amante da vida, das letras e das aventuras para as quais elas nos levam.