Sobre fogueiras e palavras
A primeira vez que o fogo me chamou atenção foi na fazenda do meu avô. Assavam um novilho. Fiquei impressionada. A mãe achou que era pelo animal morto girando e ardendo. Nem me dei conta dele. A brasa queimando, o som da lenha crepitando é que não saiam da cabeça.
A partir daí sempre que algo “ardia em chamas“ me hipnotizava. Uma lareira, a mata queimando, uma vela acesa nos dias de tempestade…
Mas o que mais me desconcertava eram as fogueiras. Fossem de São João ou numa roda de violão na praia, me traziam estranha sensações.
Comecei a sonhar com elas. Com dança. A cada novo sonho chegava a sentir o calor, a ouvir os sons do fogo e da celebração. Ouvi falar das sacerdotisas, dos festivais da primavera, das danças ao redor das fogueiras e me assustei. Afinal feitiçaria nunca foi bem visto. Por amar o fogo as deusas/mulheres foram chamadas bruxas. Por medo escondi o meu fascínio.
Esses dias alguém comentou: “Menina que feitiço é esse que você usa nas letras que tanto nos encanta?” E eu me senti novamente ardendo. Percebi que é esse calor que me mantém viva. Decidi não mais me esconder. Daqui pra frente serei feiticeira das palavras.
*Erica Terra, bióloga, farmacêutica, especialista em terapias complementares. Com um olhar holístico, escreve suas memórias no @palavreiraemflor e no @erica_terra_