A culpa da minha (in) felicidade
Para que serve um relacionamento afetivo? “Para sermos mais felizes”, você deve ter respondido. Nem sempre. No meu caso, muitas vezes foi para garantir a infelicidade. Conversa de doido? Não mesmo. Numa relação insatisfatória, onde uma das partes (ou ambas) tem medo de lutar pela própria felicidade, conservar o outro ao lado funciona como um bom álibi para justificar a covardia ou comodismo que nos impede de buscar o que julgamos merecer.
Muitas vezes, quando estive em relacionamentos com quem não compartilhava dos mesmos objetivos e valores que eu, que não me estimulava a amadurecer, eu sabia que daquele mato não sairia coelho, mas ficava, porque enquanto reclamava do outro e das falhas dele, retirava de mim o foco da responsabilidade pela minha própria felicidade.
Quanto mais eu criticava o outro, mais me distraía de mim mesma e da necessidade de ser eu a lutar pelo que desejava. A gente não faz isso de forma consciente.
É que terceirizar a culpa dos nossos fracassos e tristezas é tentador, e se não estivermos dispostos a fazer um exercício constante de autopercepção, caímos na pegadinha de atribuir somente ao outro a culpa pela nossa infelicidade.
“Ele não me valoriza, não acrescenta nada à minha vida. Sou triste por causa desse relacionamento”. Será?
Apenas eu sou capaz de me dar a saúde, o sucesso profissional, a prosperidade, as viagens, a vida social, a serenidade e o conhecimento que busco. Ninguém mais pode fazer isso por mim. O outro poderá compartilhar das minhas conquistas ou me ajudar nos momentos difíceis, mas a missão de conquistar o que preciso para me satisfazer é sempre minha.
Se o outro não percebe meu valor e não está comigo nos bons e maus momentos, deixa claro quem é e mostra que não posso criar falsas expectativas a seu respeito. Sou capaz de aceitá-lo e ser feliz ao seu lado? Ou o que necessito está fora dessa relação? A infelicidade é ruim, mas cômoda, porque não exige mudanças. Já a busca pela felicidade exige coragem e desapego, até mesmo de quem amamos. Se o outro não puder ser meu companheiro na caminhada rumo à alegria, que não seja a muleta em que me escoro para justificar a tristeza.
*@fabriciahamu é jornalista e uma das fundadoras do Vida de Adulto.