Ganho menos, mas estou empregada


Juliana, aos 21 anos, recebendo o diploma do curso de Jornalismo (Foto: Arquivo pessoal)

“Tive que mudar meu estilo de vida porque estou ganhando menos.”

Talvez seja a frase que mais tenho ouvido nos últimos tempos, inclusive de mim mesma. A crise econômica, somada com as mudanças tecnológicas e culturais em algumas áreas está extinguindo carreiras e achatando salários de uma maneira inacreditável até alguns anos atrás.

“Ganho menos, mas, pelo menos, estou empregado.”

Dói ouvir o desabafo de quem dedicou anos de suas vidas a carreiras que estão em extinção, a empresas que não pestanejaram na hora de demitir.

“Não é o emprego que queria, mas estou tentando ver o lado bom e aproveitar para investir em mim.”

Me pergunto como fazer planos com menos dinheiro para pagar cursos de idiomas ou profissionalizantes, academia, viagens, terapia. Acho que o resultado da conta não fecha.

Isso me lembra quando eu era recém-formada e trabalhava na Universidade Federal de Goiás, onde conheci um grupo de estudantes espanhóis que fazia intercâmbio. Eram estudantes de pós-graduação com bolsa de estudo do governo espanhol provenientes de regiões variadas do país.

Uma coisa era comum a grande maioria do grupo. Todos tinham pavor em ficar desempregados quando terminassem os estudos. Um dia perguntei a um deles porque esse medo se ele falava cinco idiomas, estava entrando no doutorado e dominava os assuntos de sua área de estudos.

Ele me contou que, com uma taxa de desemprego acima dos 20%, muitos jovens qualificados como ele estavam fora do mercado de trabalho. “A maioria fala vários idiomas e tem pós-graduação porque o governo oferece muitas bolsas de estudo. O que fazemos é tentar estudar o máximo de tempo possível para que isso seja um diferencial, mas não está resolvendo”.

No Brasil dos anos 1990, isso soou muito estranho para mim, que mesmo recém-formada, já trabalhava e ganhava o suficiente para me manter. Na minha cabeça era porque eu tinha “qualificação”.

Me perguntava quando os anos de estudos e o conhecimento profissional não valeriam nada no Brasil. Infelizmente, esse tempo chegou!

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