O lado B
Dono de uma beleza pouco óbvia.
Ele é o lado B.
Não é hit. Não arrasta multidões.
É aquela música que você descobre depois de um tempo. E tem certeza que foi feita pra só pra você.
Nos conhecemos no hostil ambiente corporativo. Que ele deixava mais leve. Foi buscar um papel na impressora que ficava do meu lado e deixou um perfume no ar. Um perfume próprio, porque nunca usou perfume. Só fui descobrir isso depois.
Como não é hit, não me arrebatou de forma explícita. Foi tudo muito sutil, quase não percebi.
Fui sentindo que tudo se encaixava. Tudo o que ele falava fazia sentido. Descobri o melhor timing pra humor. E que ele sempre era a pessoa mais interessante em qualquer espaço. Nossa diferença de uma década de idade era imperceptível.
Hoje vejo que é tanta conexão que chego a acreditar que já estivemos juntos em vidas passadas. Custo a entender que em milhares de anos de humanidade, nascemos nas mesmas latitude e longitude, com apenas dez anos de diferença. Um privilégio.
Passamos a infância em bairros vizinhos. Frequentamos os mesmos espaços por anos para só nos encontrarmos ali, do lado da impressora, no último ano do século 20.
Foi quando descobri o meu lado B.
B de beleza. B de bodas.
De duas décadas de felicidade em 2020.