Quando o Carnaval chegar
Sempre tive amigos mais velhos. Minha mãe costumava dizer que eu era “saidinha” demais. Quando eu podia escolher a minha turma, estava sempre com os mais velhos.
No grupo da quadra, eu era a mais nova. No inglês, também. Crianças e adolescentes da minha idade eram muito imaturos, julgava eu.
Hoje tenho amigos de todos as idades. Vinte anos mais velhos que eu ou vinte mais novos. E não haveria qualquer diferença entre eles se não fosse a frase “não tenho mais tempo a perder”, que sempre aparece nas conversas com os mais experientes.
Não há mais tempo de apostar por apostar. Aposta no escuro, só na Mega-Sena, o que, por sinal, é um marco na vida de adulto. Passou a apostar na loteria? Parabéns/meus pêsames, você virou adulto.
Hoje, aos quase 37 anos, me pego fazendo programas joviais por medo de perder o timing, seja de vontade ou de oportunidade.
Taciana, minha amiga de sempre, esses dias me relatou que resgatou uns diários. Por umas duas décadas, escreveu que ano que vem iria desfilar na Mangueira. Nunca foi. “Vá agora, amiga”, eu disse. “Agora que posso, não tenho mais vontade, passou”, ela justificou. Minha luz de alerta acendeu.
Desde os 13 anos, sonho em “chicletear” atrás do trio elétrico na Bahia. Nunca fui. Mês passado comprei minha passagem para o carnaval de Salvador. Terei recém feito 37 e não tenho tempo a perder. Convidei a melhor companhia, o namorado, pra dar a volta no trio comigo. Ele topou.
Temo não gostar. Pode ser que descubra que também perdi o timing. Mais medo ainda tenho de adorar e me dar conta que perdi tanto tempo abrindo mão deste sonho.
Como não dá pra rebobinar a fita VHS da vida, me conformo e me consolo: demorei tanto a realizar este sonho porque estava me guardando pra quando o (meu) carnaval chegar.