Saúde foi ali e volta já
*Sâmia Campelo
Sempre desejamos saúde nos aniversários, nos espirros e nos brindes. Pois é, mas apenas quando senti bastante falta dela recentemente, pude entender o que ela significa de verdade, ou pelo menos o que a ausência dela representa.
Caiu uma ficha de que saúde é o básico, é o mínimo pra poder correr atrás da vida, e quando ela não está em dia, nada caminha, nada acontece, a vida para e quase nada é possível. Perdemos o gosto da comida, o prazer dos momentos e a alegria dos encontros. Portanto, a saúde tem que vir em primeiro lugar, antes das realizações, do amor, da felicidade…
Quando perdemos a saúde, começamos (ou voltamos) a valorizar as pequenas coisas. Ainda enfermos, pensamos no que faremos quando estivermos melhores: uma viagem, uma refeição, um encontro, um dia gostoso. Se tem uma coisa boa em perder a saúde é essa: ver o mundo com mais gratidão e alegria.
Acostumamo-nos com a presença das pessoas, com os prazeres que temos, com o trabalho que realizamos, com a vida que levamos. Mas ao perder o básico, o mínimo, acordamos desse “acostuma-mento” e começamos a fazer promessas para quando tudo voltar ao normal. “Eu vou caminhar mais”, “Eu vou encontrar mais fulano”, “Eu vou cuidar melhor de mim”.
E quando isso acontece, a saúde volta, e o mundo pode ser desfrutado novamente, as promessas são esquecidas e retornamos ao automatismo, até a próxima vez em que a saúde resolver se ausentar novamente.
Será que o corpo da gente está querendo nos comunicar alguma coisa? É algo que me pergunto quando a saúde se ausenta de mim. O corpo faz a gente ficar quietinho, sem vontade de nada. Será que é pra gente escutar alguma coisa que está lá dentro da gente?
Eu quero me ouvir atentamente, mas confesso que muitas vezes negligencio essa escuta. Será que a saúde foi dar uma volta para que eu ficasse sozinha comigo mesma e pudesse ter uma “DR” a sós e desatar alguns nós? É… a saúde foi ali e volta já. Amém!
*Sâmia Campelo – Psicóloga e gerontóloga, atua como psicóloga clínica especialista em atendimento de pessoas idosas, e também é servidora pública em Brasília onde coordena um programa de preparação para aposentadoria do órgão onde trabalha. Adora escrever, ato que considera um de seus mais importantes processos de cura.