Uma ponte para a evolução
É “Shabbat”, dia de ler a Torá, porém vagueio em meus pensamentos e volto aos dias de angústia, quando as restrições por conta da pandemia foram estabelecidas.
Além do isolamento social, imagens agonizantes e previsões catastróficas circulavam na mídia e nos grupos de mensagens, aumentando o pavor.
Não sabendo lidar com o “fim do mundo”, levantei muralhas defensivas, neguei a veracidade das estatísticas, questionei a existência do vírus, busquei culpados e desejei a destruição dos responsáveis por tanta desgraça.
Agi como uma criança desamparada e busquei por um salvador, porém não encontrei ninguém capaz de solucionar a tragédia mundial. A falta de garantias e a impotência me levaram a uma crise de pânico, acreditei ser o meu fim.
Contudo, continuava minhas orações. Afinal, precisava clamar pela saúde do marido médico em situação de risco; precisava pedir pela saúde emocional de minha filha adolescente, que além de ter seus sonhos roubados, sofria com o medo de perder alguma pessoa amada.
Até que um dia um anjo tocou meu coração e me mostrou que já era hora de derrubar os muros emocionais e construir uma ponte segura entre mente e coração. Percebi que precisava aceitar a situação, compreender os fato e subtrair os excessos, deveria encontrar lições e compartilhar os aprendizados, essa era a tarefa da razão. Quanto ao coração, tinha um grande trabalho a fazer: precisava nutrir a fé, fortalecer a confiança no criador e oferecer esperança aos mais afetados.
Entre razão e coração, escolha interligá-los, pois, se acolhêssemos apenas nossos sentimentos desprezando a sapiência, certamente adoeceríamos, e vice-versa. Sigo orando pelos enfermos, pedindo bondade aos governantes e sabedoria aos cientistas; sigo cuidando da família e planejando um lindo futuro, é assim que tem que ser.
Depois de tudo que vivemos, Deus me livre não ter mais o direito de sonhar!
*@miakodaescritora – Psicanalista autora do livro “Pânico – entendendo o transtorno”.