Me ajuda?

Fabricia Hamu no Blog Vida de Adulto
Foto: Iron Braz

*Fabrícia Hamu

Num dia eu estava esbanjando saúde. No outro, febre, congestão nasal, dores terríveis pelo corpo e diarreia me deixaram de cama. Quando perdi o olfato e o paladar, suspeitei de Covid-19 e fiz o exame. A suspeita confirmou-se: apesar de todos os cuidados que tomei, o coronavírus me pegou.

Ao contar para minha família e amigas mais íntimas, fui inundada de telefonemas e mensagens: “Quer que deixe comida aí?”, “Posso fazer suas compras de supermercado?”, “Tem analgésico com você?”. Para todas estas perguntas, a resposta era sempre a mesma: “Não se preocupe, está tudo certo.”

Mas é claro que não estava. Como uma pessoa acamada, que mora sozinha e ainda precisava tomar conta de uma cachorrinha filhote, poderia se virar nos 30, isolada em casa? Respondi no automático, fazendo jus à criação que tive, de ser independente e resolver meus problemas sem nunca pedir ajuda a alguém.

Poderia ter enganado a todos, não fosse o fato de que as mulheres têm um detector infalível para mentiras.

Assim como eu, minhas amigas também foram criadas para fazer tudo sozinhas. Apesar disso, aprenderam que, em algumas situações – como quando estamos doentes –, essa lição não tem validade alguma.

Foi então que, todos os dias, o zelador passou a me interfonar, dizendo que estava indo levar na porta do meu apartamento sacolas deixadas na portaria com comida, frutas, doces, água de coco, máscaras, remédios, produtos de limpeza, ração canina e algo que, de tão precioso, não podia ser contado nem medido: o afeto.

A médica especialista em cuidados paliativos e autora do livro “A morte é um dia que vale a pena viver”, Ana Cláudia Quintana Arantes, disse uma vez que “a doença pode ser uma grande oportunidade de conhecimento, de descoberta. De saber o poder que eu tenho quando eu sou vulnerável”. Comprovei isso na pele.

Se há um ensinamento que a Covid me trouxe, é aprender a pedir a ajuda, sem medo de revelar minha fragilidade por trás da máscara. Porque não há nada mais belo que receber o toque amoroso de um ser humano que gosta de te tocar. Ainda que virtualmente. Mesmo que por encomenda. É um privilégio e tanto.


*@fabriciahamu é jornalista e uma das fundadoras do Vida de Adulto.

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