A boia
Voltei a rezar ano passado. E voltar a rezar, você sabe, exige fé e presença. Ou algum desespero. Não me lembro bem em qual situação foi, mas tenho me pegado rezando vez ou outra, desde então.
Não falo diretamente com alguém. Talvez com a mente – que, vez ou outra, mente. Às vezes, acho que rezo pro sol, mas a lua me confunde, toda deusa e politeísta. Às vezes, acho que rezo pra Buda. Outras, imagino alguém barbudo e bíblico. Rezo pros reis e Marias dos hinários. Pros arcanjos. Às vezes, acho que rezo pro tempo. Oração ao tempo. Rezo pra mãe natureza. Pra um clarão abstrato. E até pro amor. “Deus é amor”, ouvi uma vez.
Alguém também me disse que somos todos semideuses, perfeitamente capazes de mudar tudo em nossa história.
Talvez eu devesse rezar pra mim, e não por. Ou já o fiz. Fato é: voltei a conversar mais forte com as forças do universo, após tanto lero comigo, que, curiosamente sou parte delas.
Tudo começou lá atrás, num ano que exigiu mergulho pra dentro. Me resetei das redes e fiz um nado trabalhado à biodança e psicodrama. Aportei de frente pra uma bruxinha que decidiu ler meu mapa astral, e procurei uma outra que me mandou o Reiki.
Curiosa que sou, alistei-me pra uma constelação e, teimosa, engrenei numa terapia humanista. Quis curar as feridas com alegria, lambi cada uma delas após beber um suco de um limão ácido e pousei em um novo ano de frente pra mim.
“Ou vai ou racha, Pree”. Fui. E também rachei. Rachar exige coragem. Arde. Mergulhei num rio pra amenizar a ardência. De boia, porque a correnteza era forte, e eu não estava lá afim de gastar tanta energia contra ela. Seguimos juntas, eu e a correnteza.
O sol tem me feito bem, e o mesmo rio que parecia agressivo pela manhã, tem me hidratado bem pela tarde. Fim do dia consigo aportar na floresta, busco folhas bonitas que não virarão folhas secas encontradas em livros, mais tarde. Ouço o barulho dos macacos na madrugada. Sinto medo e excitação por, pela primeira vez. escutá-los, numa selva do México. Agradeço em silêncio, com sorriso no canto da boca.
*@preeleonel é comunicóloga e escritora nos tempos livres. Defensora do SUS, mãe da Penny, ombro fácil, humor idem, aprendiz de culinária vegetariana, viajante, abridora de vinho e um tanto tagarela.