E se eu nunca me casar?
“E se eu nunca me casar?”, me pergunta a amiga em crise, diante dos 40 anos recém-completados. “O que vou fazer da vida? Onde encontrarei amor? Como envelhecerei sem uma família?”, questiona, angustiada. Solteira, depois de terminar um longo relacionamento, ela se sente deslocada e sem esperança.
Respondo que ela fará muitas coisas da vida: irá viajar para lugares desconhecidos, aprender novas línguas, ler outros livros, assistir novos filmes, visitar novas exposições, estar mais com as pessoas queridas, desenvolver novos projetos na carreira, rir e chorar quantas vezes forem necessárias, buscando a realização com as próprias mãos.
Sobre onde encontrar amor, eu a lembro que ele pode estar em várias relações, e não apenas no casamento.
Ela poderá encontrá-lo em namoros ou em relações sem rótulo, mas plenas de afeto. Recordo, ainda, que conhecemos várias mulheres que estão casadas por diversas razões econômicas, sociais e jurídicas, menos por amor.
A respeito da família, pondero que ela não se constrói com base em laços de sangue ou em certidões, mas fincada na afinidade, no respeito e na disposição do cuidado. Reflito que nós duas, mesmo, somos um exemplo deste tipo de família construída e escolhida, aquela dos melhores amigos, que sempre se amparam e estão presentes.
Ela diz que me inveja, que gostaria de ser resolvida como eu.
Então explico que isso é tudo que não sou. Assim como ela, me vi cheia de frustração aos 40 anos, por não ter correspondido à expectativa social de ser uma mulher casada e com filhos. Até que compreendi que a vida segue seu próprio curso, e não um roteiro escrito por outras pessoas.
Entendi que, em tempos de amor líquido, não adianta tentar segurá-lo com as mãos. Algumas vezes ele será duradouro, noutras será breve. Algumas vezes nos deitaremos no colo de filhos paridos, noutras de parentes de coração. Papel assinado, teto dividido e reconhecimento público não são garantias de nada. Amor e abrigo serão sempre mais vastos que nossos medos e costumes. Graças a Deus.
*Fabrícia Hamu é uma das fundadoras do Vida de Adulto. Escreve às segundas-feiras, duas vezes por mês.
Boa aportação, boa para reafirmar um discurso que estou levando à prática cada día desde que me separei. Sobre tudo quando apesar dos anos que a sociedade tem.. xxi séculos?? ainda existem mulheres que colocam acento na sua sitaução de ·casada” ou na palavra “marido” como se fosse um valor adicional frente ao reconhecimento social…eu falo sempre de companheiro e mutias vezes sinto me até mal vista por isto, no entanto reafirmo que a melhor expressão para se referir à pessoa que está partilhando tua vida e recorrendo um caminho junto de ti, no meio do amor de casal, é um companheiro.Obrigada sempre è grato ler voces.