Quando o coração cala, o corpo fala
Há exatos dez anos tive minha primeira crise de fibromialgia. Uma dor generalizada no corpo tão intensa que me fazia ter náuseas, vômitos e até diarreia. Porém, foi apenas no final de 2012 que consegui o diagnóstico correto. Passei quase quatro anos peregrinando por todos os ortopedistas, osteopatas e neurologistas que conhecia, para enfim encontrar um reumatologista que descobrisse meu problema.
Se você quer saber como é uma crise de fibromialgia, pense em alguém que pega dengue. A sensação é a mesma de todas aquelas dores fortes nas articulações e do mal-estar trazido por elas – fraqueza, prostração. A diferença é que quem contrai o vírus sente isso por apenas nove dias, já uma crise de fibromialgia pode durar semanas, ou mais de um mês.
A imagem clássica de alguém com fibromialgia é a de uma pessoa frágil, quieta, covarde diante da vida, mas é exatamente o contrário.
As mulheres que mais desenvolvem essa síndrome – sim, a maioria gritante dos pacientes é do sexo feminino – são justamente aquelas que nada temem, que carregam o mundo nas costas, que nunca reclamam de nada e estão sempre com a cara boa.
Todo medo, pânico, tristeza, luto e cansaço que nosso coração insiste em calar, porque acreditamos que não devemos sofrer nem colocar para fora e nos obrigamos a ser fortes e invencíveis, em um determinado momento nosso corpo decide falar. Sufocado pela pressão autoimposta de não revelar nem vivenciar as emoções, o corpo pede socorro por meio de uma crise de fibromialgia.
A grande lição que essa síndrome me trouxe é que é preciso externar o que sentimos, pedir ajuda, dizer basta, reconhecer que não é possível, saber falar “não”.
É preciso assumir nossa fragilidade e nossos limites porque, quando fazemos isso, é justamente quando nos tornamos mais fortes e saudáveis. A fibromialgia é uma professora bastante exigente e que cobra caro, mas ensina muito bem para quem está disposto a aprender com ela.
*Fabrícia Hamu é uma das fundadoras do Vida de Adulto, escreve às segundas-feiras, duas vezes por mês.
eu aprendi muito sobre a fibromialgia nesse site https://www.reumatocare.com.br/fibromialgia.html
me ajudou muito a entender e a aceitar minha doença
Um relato muito bom. Leio sempre tudo o que me aparece sobre a fibromialgia, e muitas vezes me decepciono. A maior parte dos artigos é produzida por médicos, e sei que eles devem seguir os relatos dos pacientes, mas só mesmo quem sofre com esse problema é capaz de descrevê-lo bem.
Tenho fibromialgia há 18 anos e meio, e também fiz um percurso semelhante. Quem me alertou para o problema foi a fisiatra que me ajudava a me recuperar das crises, assim como meu médico acupunturista. Me vi muito no relato desse perfil, a pessoa de mil instrumentos que leva o mundo nas costas (criei sozinha 3 filhos, com as dificuldades que isso acarreta, afinal mãe nunca substitui pai). Mas me lembei também de ter sido sempre obrigada a engolir o choro na infância, assim como respeitar a hierarquia custe o que custar na vida profissional.
Enfim, a sociedade está sempre exigindo de nós um determinado comportamento, um determinado sucesso, e quando percebemos o corpo já começou a dar os seus sinais de esgotamento. No meu caso foi um acidente de automóvel que deu o clique para o problema se manifestar. Mas, antes disso eu já havia percebido a necessidade de buscar um equilíbrio interno fazendo yoga e meditação. Não consegui evitar que a doença se manifestasse, mas sem dúvida isso me ajuda muito a evitar novas crises e a suportar as dores do dia a dia.
Obrigada por compartilhar sua experiência, Tânia. Vamos juntas nos fortalecendo 🙂
Adorei o rexto
Obrigada 🙂