Ser diferente não quer dizer ser menos

Autismo
Mariana e Fabricio (Foto: Arquivo pessoal)

*Mariana Caminha

A coletiva de imprensa mais importante da minha vida de jornalista teve como tema abate de gado. Tendo garantido meu lugar naquele auditório algumas semanas antes, saí de Brasília rumo a São Paulo numa linda manhã de setembro carregando comigo o “kit cobertura”: máquina fotográfica, celular, caderno, caneta. Foram mais de 2 horas ouvindo uma das maiores especialistas no ramo discorrer sobre manejo de gado, tecnologia, bem-estar animal.

A verdade é que eu não estava ali como jornalista. Nunca nem trabalhei para um veículo de mídia que pudesse se interessar por uma reportagem sobre tal assunto. A minha presença naquele auditório se dava única e exclusivamente pela presença de Temple Grandin, o maior ícone do Autismo no mundo, uma das mais respeitadas cientistas da atualidade.

Hoje, 2 de abril, é o Dia Mundial de Conscientização do Autismo.

Meu filho, Fabrício, de 8 anos, é autista e por causa dele mergulhei em um mundo tão vasto e desconhecido como encantador e complexo.

Um mundo onde Diversidade, Inclusão e Esperança caminham de mãos dadas.

Só fui entender a beleza da Neurodiversidade depois do diagnóstico do Fabrício. Hoje sei que uma sociedade plural dá mais espaço para a tolerância, flexibilidade, compaixão. Como diz a própria Temple: ser diferente não quer dizer ser menos. Different, not less. Diversidade significa riqueza de ideias, de formas de ver o mundo. Muitas das grandes invenções e obras de arte da humanidade são resultado de mentes atípicas.

Diante de números que nos mostram o diagnóstico de 1 em cada 59 crianças (de acordo com o Centro americano de Controle e Prevenção de Doenças), é muito fácil entender que INCLUSÃO é palavra de ordem. Inclusão nas escolas, no parquinho do condomínio, nas festinhas de aniversário, no mercado de trabalho. Para os autistas, inclusão é qualidade de vida, é ter direitos básicos respeitados, é ser aceito por inteiro. E como ensinar as crianças neurotípicas (popularmente chamadas “normais”) a lidar com a diversidade? Com transparência e informação.

Costumo dizer que ter um filho autista é ter a certeza de que o trabalho nunca acabará. Mas naquele dia em São Paulo, assistindo à Temple Grandin falar sobre seu trabalho à imprensa, pensei: “Uau, aqui na minha frente está aquela mesma pessoa que foi tão desacreditada quando criança”. Foi lindo ver uma autista sendo respeitada, reverenciada, ovacionada, simplesmente por ser quem é. Fiquei tentando imaginar o orgulho da mãe de Temple.

Respeitada pela genialidade da sua diferença. Incluída após anos de luta. Aplaudida por nunca ter desistido diante das adversidades.

Diversidade. Inclusão. Esperança.

Sempre de mãos dadas.

Feliz Dia Mundial de Conscientização do Autismo.


*Mariana Caminha é jornalista e mãe de Fabrício, 8 anos. Fabrício recebeu diagnóstico de Autismo aos 3 anos de idade. Além de ir à escola diariamente, Fabrício faz terapias e esportes. A família mora em Brasília, mas vive viajando pelo mundo.

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