As tias

*Carmem de Lavor

O segundo domingo de maio para mim, há algum tempo, deixou de ser a data em que comemoro o dia da mães. Na verdade, é um dia em que celebro intimamente a força das mulheres da família Lavor. Pode parecer estranho, mas ser uma mulher na minha família carrega um simbolismo difícil de entender para quem está de fora.
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Desde pequena foi assim, estar ao lado das tias era como ter múltiplas mães. Juntas, elas eram pura alegria, falavam todas ao mesmo tempo, cozinhavam como ninguém, trabalhavam dentro e fora de casa e sempre colocaram a família na frente de tudo.
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Eram ao mesmo tempo o esteio e a alavanca que nos guiava para frente. E graças a elas eu não tenho apenas primos, eu tenho irmãos, e olha que não são poucos, 67 para ser mais exata! Dava orgulho ouvir a história da minha mãe e das irmãs que saíram do interior do nordeste para tentar uma vida melhor no Rio de Janeiro.

Na adolescência, descobri que a força delas servia também de escudo para esconder as dores das perdas, dos sonhos, das crises nos casamentos. Mesmo assim, não se lamentavam e não choravam, pelo menos não na frente dos filhos.
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E foi assim que eu e minhas primas crescemos, juntas e misturadas. Dos dezesseis tios, apenas três estão vivos, e continuam sendo reverenciados por nós. Olhar para eles é como ver um pedacinho de cada um dos que já partiram.
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Quando minha mãe morreu, foi para o colo das minhas tias que corri. Foi ali, no meu porto seguro, que aos poucos eu e meu irmão fomos sarando a nossa ferida.

Por tudo isso, o segundo domingo de maio é um dia para agradecer não somente pela minha mãe, mas também pelas tias que tive. E que me perdoem os primos, mas somos nós, as mulheres, que continuamos a carregar a força de ser uma Lavor.

*Carmem de Lavor é uma jornalista nascida no Rio, mas apaixonada por Brasília. Sagitariana, está sempre mirando o horizonte. Não resiste ao sorriso de um bebê e ao latido de um cãozinho. Detesta injustiças.