Meus rápidos quarenta anos


Foto: Studio 32

*Nathalie Régis

Meus rápidos quarenta anos. Não sei quem correu, se eles ou eu.

Embora adore bebês, eu não quis ser criança por muito tempo. Desde sempre, fui uma menina responsável, de poucos risos e sonhos de crescer o mais rápido possível.

Primogênita, era a mais séria e sisuda da casa. Sentia-me uma pequena adulta e agia como se assim fosse, cuidando, e muito, dos meus irmãos. Era uma criança-adulta.

Não dei trabalho aos meus pais, casei-me muito cedo e logo depois fui mãe de verdade. Não, não estava grávida, mas tudo o que eu queria era ter filhos.

Quando o meu primeiro nasceu, senti-me na responsabilidade de estudar e passar em algum concurso público, porque éramos jovens demais e precisávamos arcar com as despesas da casa.

Três anos de estudo, fui aprovada em um certame do judiciário, formei-me no curso de direito, fiz uma pós em filosofia e me exauri; enverguei, sim, mas não quebrei.

Comecei, então, a questionar sobre como eu poderia ser mais sutil, mais flexível, menos austera, sem me tornar, porém, leviana. Queria uma reforma interior, não uma demolição.

Vi que, desde pequena, sofri de excesso de prudência e não sabia qual a medida certa entre o mundo da vaidade e o do cuidado pessoal. Sim, eu era bem maniqueísta e as idiossincrasias humanas me irritavam profundamente.

Foi nesse turbilhão de porquês que me vieram as necessidades de resgate da auto-estima e de aprender um pouco de tudo sobre tendências da moda, maquiagem, unhas e, demais terapias coloridas femininas.

Fui tateando este universo, experimentando mudanças em mim, lendo, conversando, e me apaixonando por esse ambiente: no reflexo dos espelhos da casa, dos salões, fui me descobrindo, me borrando, pintando, bordando, e refazendo partes em mim que andavam algo preto e brancas.

Criei até um perfil semi profissional no Instagram (nath100Idade), que é quase um portal, no qual se encontram a mulher que sou e a menina que fui, para que, de mãos dadas, eu teça o meu eu futuro.

Neste processo, lento e gostoso, de quebra, ganhei o riso, o frescor no olhar, a leveza no passo, a vontade de ir imaginando, criando e ousando; eu, finalmente, de todo adulta, de todo criança, sem fugir de mim.

Quem me vir, então, por aí, na vida real, no universo digital, não estranhe a seriedade da minha alegria de ser mulher.

*Já fui muitas Naths, em cada uma delas, minhas escolhas. Casada há vinte e nove anos, tenho três filhos: dois biológicos e uma do coração. Sou servidora pública federal, blogueira em formação e o melhor que posso ser, hoje…



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