Vamos parar de contar nossas idades em anos?

Foto: Fernando Franco

*Mariana Londres

Depois de sobreviver, envelhecer é o nosso maior desafio. Só nos damos conta disso após uma certa idade porque até os 30 e poucos ainda temos a ilusão de que o envelhecimento só atinge os outros, é coisa dos velhos. “Velho é quem tem mais de vinte anos do que gente”, dizia um tio. Pura verdade. Para nós, os velhos são sempre os outros.

Mas não. Velhos somos nós, desde que nascemos, um pouco mais velhos todos os dias. Nossa dificuldade em lidar com essa verdade inconveniente talvez possa ser explicada pelo fato de darmos tanta importância à idade contada em anos. Tente pesquisar o nome de qualquer celebridade no Google. O buscador vai te contar que a segunda ou terceira coisa que todos querem saber é a idade da pessoa. Temos essa obsessão.

Certamente para nos comparar. Ou julgamos que a pessoa está envelhecendo mal, e aí nos sentimos bem em comparação, ou achamos que está muito bem, e aí temos a esperança de ficarmos ou estarmos como elas, dependendo do nosso lugar na cronologia.

Senti o peso da idade contada em anos nessa semana. Me sinto nascida ontem, pisquei e meu filho completou 17 anos, tenho mais energia do que aos 29 anos, mas completei no sábado 42 anos de vida. Quando tenho que preencher um formulário online com a data de nascimento, bate aquele desespero quando o ano de 1977 custa a chegar.

Convivo com pessoas mais novas e mais velhas, e os mais jovens não escondem o choque quando digo que já passei dos 40. Ainda não decidi se isso é bom ou ruim. Mas decidi que espero ansiosamente o dia em que contem a minha idade em experiências, e não mais em anos. Aguardo a pergunta de quantas viagens já fiz. Quantos amores já tive, ou há quantos anos cultivo uma amizade.

Não quero me resumir ao número que conta a passagem do tempo. Somos muito mais do que isso.

*Mariana Londres Pinha escreve desde criança como terapia. Nunca pensou em publicar nada pessoal, até encontrar uma editora insistente e apaixonada. Além de textos, produz relações de longo prazo e é especialista em administrar distâncias e saudades.

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