Operação curupira
Eu nunca fiquei solteira na vida. Comecei a namorar cedo, engatei um namoro longo em cima do outro e casei cedo, descasei, casei de novo, descasei de novo e… “Agora dá um tempo, né?” Ouvi isso de todos os meus amigos. E sim, dei um tempo, pra mim e pro coração.
Nestes nove meses de solteirice, gerei diversos sentimentos, uma série de aprendizados e a premissa máxima que desconhecia: ser solteira dá muito trabalho.
Ser solteira é sinônimo de ansiedade. (Se fizer um exame de sangue agora, pode ter certeza de que meu nível de cortisol está batendo nas nuvens). São milhares de questões pra lidar: devo ligar? Mando mensagem? Posto indireta no Instagram? Finjo desinteresse? Planejo o fim de semana? Ou não faço nada disso e jogo pro universo?
Esses dias uma amiga me contou que escovou o cabelo, fez as unhas e se depilou pra encontrar o cara com o qual ela estava saindo e que ela jurara que aquele se transformaria em status “relacionamento sério” do Face. Ela foi ao encontro e levou um fora. “Não estou preparado pra namorar”, ele justificou. No dia seguinte, ela e eu fomos ao clube para aproveitar a depilação recém-feita. O restante do investimento afetivo/financeiro foi por água abaixo.
Falei pro meu terapeuta essa semana que queria voltar a ter a ousadia dos 18 anos. Naquela época, era menina destemida. Dúvidas como essas não existiam. A conversa era espontânea. Não havia tentativa de se criar um personagem. Eu estava ali, nua de qualquer temor. Minha ignorância era minha dádiva.
Hoje não. Sou cheia de medos: de me envolver e gostar. Gostar e me entregar. Me entregar e me decepcionar. Me decepcionar e sofrer. Contei pra Luana, minha sábia amiga, de um encontro que tive e ela me disse: “Se joga”. Respondi que não conseguia mais.
Aquela pessoa destemida já não habitava mais em mim. Ela me deu um conselho: “Se joga sim! Invista, mas como Curupira (o personagem folclórico que tem os pés virados e anda pra trás)”. Assim como a polícia faz, Luana e eu decidimos batizar meus futuros encontros de “Operação Curupira”: irei sempre vestida de colete à prova de expectativas e com os dois pés pra trás.