Amarelo em setembro
*Renata Dourado
Em vários momentos, já no início da adolescência, a ideia de desaparecer era constante no universo de Clara. As possibilidades de deixar a vida iam e vinham na mente dela, como ondas no mar. A jovem chegou a separar remédios, pegar lâminas… e se via, diante dessas alternativas, sem que levasse adiante o plano.
Clara vinha de uma família estruturada. Pai, mãe e irmãos amorosos. Mas, uma dor permanente na alma, sem explicação aparente, insistia em permanecer com ela, de uma forma quase que insuportável. E o dilema ainda era maior porque ela sempre teve a certeza de que a morte não existia. Acreditava na continuação da vida em outra dimensão.
Mas, e aquela dor, que insistia em permanecer? Como negar esse grito constante na alma? Um dia, no auge do desespero, ela planejou e organizou a despedida. Não aguentava mais conviver com aquela chaga queimando em seu peito.
Em questão de segundos, tudo estaria resolvido. Estava na beira do abismo, em prantos, prestes a pular… e, em segundos, veio um momento de lucidez.
Ela compreendeu que não queria acabar com a vida, deixar o filho pequeno órfão. Queria apenas acabar com a dor que dilacerava a alma. E iria buscar ajuda.
Procurou especialistas, tomou remédios, fez terapia, mas, acima de tudo encontrou uma razão para a existência: curar feridas. Ela entendeu que a dor dela seria amenizada, na medida em que diminuísse outras dores. E assim, Clara descobriu razão para a vida. Ajudando a dar sentido a outras vidas.
E hoje, as oscilações ainda fazem parte da vida dela, mas não mais a dor insuportável. Clara aprendeu a ter paciência. A entender que as tempestades tem prazo para acabar e que as oscilações fazem parte da vida. Se a receita de Clara vale para todos? Não sei. Talvez não. Mas, com certeza, todos temos uma receita, dentro de nós.
Como ouvi-la? Basta fazer silêncio.
*Renata Dourado é jornalista e pós-graduanda em psicanálise e saúde mental. Trabalha como apresentadora e editora na TV Bandeirantes em Brasília.
A cada 40 segundos uma pessoa se mata no mundo. No Brasil, a estimativa é de um suicídio, em cada 45 minutos. Os dados são da Organização Mundial de Saúde. Especialistas afirmam que mais de 90% dos casos poderiam e podem ser evitados, com o auxílio de especialistas.