O silêncio dos homens
Meu amigo é um profissional de vendas experiente. Casado com a mulher que ama, será pai no final do ano. Teria tudo para se considerar um homem feliz, não fosse por um detalhe: soube há um mês que seria demitido. Desde então, se pergunta o tempo todo: como ajudará a esposa a sustentar a casa e o bebê? Como vai se recolocar no mercado em crise?
Tomado pelo medo e a ansiedade, ele começou a ter insônia. Passava as madrugadas no sofá, pesquisando no celular quanto ganharia trabalhando como motorista de Uber. Também buscava desesperadamente sites com dicas para pais de primeira viagem, com pânico de fazer tudo errado. Obcecado pelos problemas, não compartilhou nada com ninguém.
No dia em que finalmente foi demitido, tomou um porre e chegou em casa tarde da noite. A esposa o esperava com as malas prontas. Tinha certeza que ele havia arranjado uma amante. Ao ser expulso de casa, explodiu em choro e contou tudo o que havia acontecido. Perplexa, ela simplesmente não entendeu como ele pode passar por tudo aquilo calado e sozinho.
Eu também não sabia dessa história. Soube depois de comentar com ele o impacto que o documentário “O silêncio dos homens”, produzido pelo Papo de Homem, causou em mim. A obra trata da solidão emocional vivenciada pelo sexo masculino, oprimido por uma cultura que o proíbe de compartilhar seus sentimentos, inseguranças e perdas.
Sugeri que meu amigo assistisse no Youtube. Ele viu e sentenciou: “É tudo verdade. Sabe quando o cara do filme diz que muita gente acha que não sofremos porque estamos em posições de poder e falamos muito? É aquilo: falar não significa expressar emoções. E a gente nunca expressa”.
Se você não viu, eu recomendo. Em tempos de polarização, inclusive de gênero, o debate do documentário é fundamental. Com a palavra, você, leitor: como podemos ajudá-lo a vencer a solidão emocional? Com a palavra, você, leitora: como é lidar com essa questão no cotidiano? É hora de falarmos sobre isso. Quem sofre calado sofre em dobro.