A mamografia e o hambúrguer
A primeira vez que fiz mamografia foi aos 35 anos. Perguntei à médica se realmente precisava porque tinha lido que o exame é indicado para mulheres mais velhas. Ela respondeu que, como eu tinha condições de fazer, sugeria que já fosse feito.
A experiência foi horrível. Para começar, o laboratório enviou uma lista de instruções: “É proibido usar desodorantes, perfumes ou hidratantes corporais antes do exame”. O quê? Perguntei surpresa, mas como tinha que fazer, tudo bem. No dia marcado, eu estava lá e fui recebida por uma moça educada que me conduziu para uma sala fria, na aparência e por causa do ar-condicionado.
Como foi a primeira vez que fazia o exame, ela explicou os procedimentos e disse para eu ficar tranquila. Falou que eu sentiria dor, muita dor, mas o lado bom é que tudo terminaria em alguns minutos. Então olhei para a máquina na minha frente e não pude acreditar. Parecia uma chapa de hambúrguer, bem grande. O problema é que meu peito seria o hambúrguer prensado.
Então a moça me empurrou para a máquina e o exame começou. Senti tanta dor que até poderia gritar alto, mas tentei pensar que tudo aquilo era por uma boa razão. A experiência foi difícil e ruim e é terrível até hoje, mas não reclamo. Eu tenho a oportunidade de fazer mamografia todos os anos e isso é único.
Infelizmente, a maioria das mulheres brasileiras não pode. Eles não têm plano de saúde e nem dinheiro para consultas particulares. Têm que esperar a primeira consulta médica na rede pública e, se tiverem algum problema, a espera será ainda mais longa.
Outubro é o Mês Rosa. É uma data mundial para lembrar a importância da prevenção do câncer de mama e do colo do útero, mas para a maioria das mulheres brasileiras este é um mês comum. Mais um sem acesso a médicos ou tratamentos médicos.
Se pudessem escolher, tenho certeza que essas mulheres também gostariam de se sentir como um hambúrguer, quantas vezes fossem necessárias. Não tenho a menor dúvida!