Prazer, eu sou um pedreiro
O mundo não quer que a gente coma, é fato. Somos pressionados a consumir coisas que não temos a menor ideia do que é, em quantidades cada vez mais restritas, e a abrir mão de alimentos que adoramos, mas que por alguma razão descobriram que engordam ou não são adequados. Me sinto uma ovelha negra, porque como sem culpa e com prazer.
Invejo quem fica sem fome quando está estressado. Sou daquelas que mexem nas planilhas de Excel com uma mão e seguram o pão de queijo com a outra, porque se for para surtar, que seja com café e pão de queijo de quente. Fico constrangida com quem sofre tanto que perde o apetite. Enquanto choro pelo fora do boy, decido se vou colocar páprica picante ou doce no molho que estou fazendo.
Acho impensável que em um País com tanta variedade de alimentos e nutricionistas competentes para nos ajudar a comer de forma saudável e prazerosa, tenhamos de viver à base de chás, pós e misturebas estranhas para cumprir uma expectativa irreal de peso e dietas da moda. Mas essa é a minha opinião. Sei que há quem pense diferente e respeito. O problema é que nem sempre a recíproca é verdadeira.
Esses dias saí para almoçar com uma colega de trabalho. No meu prato havia arroz com pequi, carne e salada. No dela, alface, um pedaço de peixe e grãos de ervilha. Chocada, ao comparar os dois, ela sentenciou: “Não engorda de ruim, hein? Que prato de pedreiro!”. Na balança, o peso do meu prato marcava 324 gramas. Aos olhos dela, uma tonelada de carboidratos.
Farta da patrulha alimentar, decidi almoçar com outra colega no dia seguinte. Fomos a um restaurante simples, onde as mesas ficam embaixo de uma árvore e o PF é maravilhoso. Lá estávamos eu, os amigos pedreiros, caminhoneiros e operários, juntos e shallow now, comendo tranquilos. A mais pura definição de felicidade.
Não seja um fiscal do prato alheio. É chato. É desagradável. Coma o que quiser e deixe os outros livres para fazerem o mesmo. Se você também é das minhas, repita comigo o nosso mantra: “Vamukomê”. O pedreiro que existe em mim saúda o pedreiro que há em você.