Senta, que lá vem textão
Semana passada, fazendo um limpa no celular, me deparei com uma pasta no bloco de notas, criada há três anos, chamada “Textões para mandar”. O nome resume o objetivo do arquivo. A cada vez que vivia uma crise em um relacionamento, escrevia no impulso o que estava sentindo e enviava para a pessoa em questão.
Na época, eu acreditava que, sempre que estivesse triste, brava ou decepcionada com um homem, deveria dizer isso a ele, com todas as letras. O cara que se preparasse para sentar, porque lá vinha textão. Hoje, não faço mais isso.
Nós, mulheres, temos mania de achar que, se os homens nos desapontam ou evitam o relacionamento é porque estão confusos e perdidos. Porque houve um mal-entendido. Porque não fomos claras, firmes ou compreensivas o bastante. Usamos todos os pretextos e palavras do mundo para fugir do óbvio: não está funcionando porque eles não querem ficar conosco.
Doi reconhecer esse fato, mas é uma verdade libertadora. Quando a encaramos, tudo se torna mais fácil. Se uma pessoa não quiser ficar com outra, nenhum argumento vai convencê-la do contrário. Por outro lado, se ela quiser, as palavras serão desnecessárias, porque ela não falará isso: vai mostrar com atitudes.
Se já conversamos à exaustão e nada mudou, é hora de silenciar e agir. Para a dignidade e a sanidade permanecerem, a gente parte sem textão. Mesmo com dor. Mesmo querendo ficar. Mensagens enormes, repletas de ironias, acusações, cobranças ou súplicas não mudam o que já estava escrito no último capítulo dessa história e nos recusamos a ler: acabou.
Textões podem até nos fazer lacrar nas redes sociais, mas no off line da vida a dois, arrasa quem fala menos e age mais. Quem se preocupa em ser feliz, não em em ter razão. Quem aceita que a ausência pode ser mais eloquente que a presença. Respeitar a si mesmo, a decisão do outro e o tempo das coisas: eis a grande lição que precisamos aprender, mas que textão algum é capaz de ensinar.