Cheguei à idade do foda-se

Foto: Arquivo pessoal

*Noeli Nobre

Talvez inconscientemente eu tenha feito poses semelhantes para fotos na praia com uma diferença de dez anos entre elas. Só depois percebi e me dei conta da passagem do tempo, que mexe tanto comigo e eu sei que com vocês.

A primeira foto é de novembro de 2009. Eu estava prestes a completar 30 anos e estava louca para me tornar balzaquiana, achava chique, porque todas as mulheres que haviam me inspirado até então tinham mais de 30. A segunda imagem é de novembro passado. Contra a minha vontade, eu acabara de completar 40 anos.

Oi?! Como assim, se ainda vivo como se tivesse 20, diferente da minha vó que aos 36 era avó e era velha. Olho ao meu redor, vejo minhas amigas de 40, 50 anos, lindas, sábias e empoderadas, mulheres sem idade. Eu também. E aqui as contradições. Às vezes, eu queria poder dizer: tenho 25.

Nem tanto pela pele lisa. Eu sinto falta é daquele entusiasmo, do encantamento diante de uma vida inteira pela frente, das pessoas que eu amava e ainda estavam aqui, dos meus pais jovens. Eu tentei evitar, mas não teve jeito. Cheguei à idade do foda-se, verbo que aliás eu conjugo há alguns anos.

Sim, é verdade o que dizem de que os anos libertam e você só faz o que te dá na telha. Mas os anos trazem desilusão também, desesperança com o mundo. Futuro agora é uma abstração, apenas uma possibilidade. Corro para o espelho, vejo a ação do tempo no reflexo. O bonito disso: vivi.

É provável que haja muito mais por viver, mais do que os 40 anos que vivi até agora. Posso fazer planos. Se não derem certo… Ah, foda-se. Eu sempre digo, gosto disso de não saber o que vai acontecer.

*Noéli Nobre, brasiliense de raízes bandeirantes e amazônicas. Adepta do sonho, amante das palavras.

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