Quando você chegar

Foto: Pixabay

*César Raizer

“Quando você chegar, pode ficar à vontade. Deve estar cansado da viagem. Deixei a chave na portaria. Vou colocar uma toalha em cima da cama. Pode tomar banho e relaxar. Eu só vou chegar mais tarde, mas se sinta em casa. Não estranhe os cachorros. Pode ligar a televisão. A senha do Wi-Fi está anotada num papel em cima da bancada. Comprei bolo de coco. Pode abrir a geladeira. Te aviso quando sair do trabalho. Quero te ver.”

Pois bem, cheguei. A ansiedade não me deixou dormir, mas consegui descansar um pouco. O apartamento é lindo! Os cachorros me receberam como se já me conhecessem. Fui direto pro chuveiro. Pus uma roupa confortável. O nervosismo acabou com a minha fome. Nem cheguei perto da geladeira. Liguei a televisão pra não ficar pensando na espera. Quero te ver.

Essa poderia ser mais uma história de amor. E foi. Lá atrás. Há bastante tempo. Quando a gente se sentia em casa mesmo estando fora dela, só por estar junto. Consegui abrir a porta, mas não fiquei tão à vontade. Tomei banho gelado. Acho que eu não soube girar a torneira direito. Tentei usar o Wi-Fi mas faltava conexão. Digitei a senha errada. Você insistiu que eu comesse o bolo. É um dos meus preferidos mas, pelo que me lembrava, o sabor era mais doce.

Nós já não somos mais os mesmos. Carregamos a mesma essência em frascos muito distintos. Sonhamos tantas coisas juntos mas as realizamos separados. Vivemos em tempos diferentes. Ainda não estamos prontos um pro outro. Até acho que nunca estaremos. Fiquei feliz por reviver tantas memórias e recontar tantas histórias. Mas chegou a hora de ir embora. Apesar de tudo, foi bom te ver. Melhor do que isso, foi bom me ver.

Que bom que os cachorros gostaram de mim.

*César Raizer é formado em Direito e Jornalismo. Caboclo amazonense. Brasiliense por opção. Sagitariano nato. Viajante, guloso e ansioso. Apaixonado por pessoas, televisão e chocolate.

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