Ninho vazio

Ninho vazio
Foto: Arquivo pessoal

*Ana Rita Carvalho

A saída dos filhos da casa deveria ser algo esperado e naturalmente aceito pelos pais. Afinal, seja para continuar os estudos, casar ou pela opção de ter o próprio espaço, um dia eles poderão ir. Sabemos disso, mas não é fácil. Gostaríamos de mantê-los em uma bolha, sob a nossa proteção materna. Por mais que acompanhemos seus planos e desejamos que consigam realizá-los, a hora de dizer adeus não passa incólume.

O ano de 2007 mal tinha começado quando meu filho anunciou que havia conseguido a tão almejada bolsa de estudos fora do Brasil. Ele deixaria um emprego promissor, o conforto da casa e todos os cuidados que recebia, para viver sozinho e com parcos recursos em terra estrangeira.

Com inúmeros questionamentos, a minha reação inicial foi procurar respostas que me tranquilizassem e me garantissem que ele estava fazendo a escolha certa, que nada lhe faltaria, que encontraria bons amigos e seria bem cuidado.

Um turbilhão de lembranças e emoções tomaram conta de mim. Fiquei alguns dias recolhida no meu silêncio, olhei álbuns de fotografias, chorei e dei risadas, tive dúvidas e certezas, senti dores e alegrias. Revivi o período de gestação, o nascimento, os primeiros dias, meses e anos. Recordei as viagens, os passeios e as muitas histórias de nossas vidas, com suas lutas e vitórias.

Nesse processo, experimentei de alguma maneira, mais uma vez, o corte do cordão umbilical. Movida pela fé que me sustenta, deixei ir o meu filho mais velho, na certeza de que os vínculos e os laços de amor que construímos nos manteriam juntos, não importando a distância.

Algum tempo se passou e chegou a hora de deixar ir a filha. Dessa vez, também não foi fácil, mas o meu coração de mãe aceitou que o ninho vazio faz sentido, se eu olho para os meus filhos como flechas vivas e amadas que eu ajudei arremessar ao mundo, conforme me inspira o poeta Kalil Gibran:
“Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.”

*Ana Rita Carvalho é mineira, aposentada, casada, mãe e avó. Reside em Brasília onde construiu sua carreira como assistente social no serviço público. É especialista em Psicogerontologia e autora da página @viva60mais no Instagram e Blog do mesmo nome.

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