O homem

Foto de homem de costas em frente a uma janela olhando para fora
Foto: Depositphotos

*Agnes Melo

É uma noite de verão do ano 2020, te vejo em pé na varanda, de costas para mim, encostado no pilar de madeira, olhando a chuva, com seu inseparável cigarro. Na caixa de som, “Streets of Philadelphia”. Sentada na minha cadeira de balanço observo e me pergunto:

No que ele pensa?

Talvez no futuro dos nossos filhos, já adultos, porém vivendo num país no qual, atualmente, há escassez de oportunidades para o jovem; talvez pense no que já conquistou até aqui, no que ainda precisa conquistar, nas batalhas que ainda precisa lutar.

Pode estar pensando na antiga namorada de infância, ou na tia doente que o criou por alguns anos e está com uma doença terminal; pode até não estar pensando em nada e apenas olhando a fumaça se esvair na chuva.

Ao relatar essa cena penso que todo homem é um mistério. Decifrar o seu companheiro por completo é tarefa difícil para a mulher; e eles se sabotam para não se mostrarem frágeis.

Enquanto a mulher objetivamente busca cada vez mais a independência e a liberdade de estar aonde quiser e com quem quiser, o homem hoje procura identificar qual é o seu novo papel nas relações com a família, no trabalho, na sociedade.

Diante dos novos paradigmas, ouço jovens dizendo que pensam duas vezes antes de elogiar uma garota de forma a não parecer assédio.

Passamos de uma sociedade que exigia do garoto ser o “pegador” para hoje alertá-lo de que não deve chegar perto de uma garota sem ter um sinal claro de que ela quer aproximação. Tocar, então, nem pensar.

É uma nova abordagem e eles ainda estão aprendendo a buscar quais são os novos sinais. Apesar dos movimentos feministas, das estatísticas sobre o aumento dos lares brasileiros chefiados por mulheres, muitos homens ainda não abandonaram seu papel ancestral de macho provedor.

E quem há de criticar? Quem há de acusar aquele que busca entender sua nova missão? Não é incomum que uma mulher ainda espere que seu homem traga a “caça” para casa. Como também não é incomum que a fêmea humilhe quem não chega com o pão.

A transição ainda está acontecendo. Tenhamos paciência para acolher o homem da nova era!


*Agnes Melo, jornalista, alma livre, 53 anos.

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